O mosaico potiguar de Newton Navarro a Cláudio Damasceno

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Newton Navarro: um artista maior que qualquer ponte

Foto de Elisa Elsie para o site
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Inaugurada há menos dois anos, uma ponte monumental liga nos dias de hoje a praia do Forte, em Natal, à Praia da Redinha. O nome atribuído à ponte pelo governo estadual é o do artista plástico Newton Navarro, um potiguar da melhor da extração, nascido em 1928 (e falecido em 2002), cujo currículo tem uma extensão bem maior que qualquer ponte. Nascido em berço modesto, chegou à vida universitária encaminhado pela família para o curso de Direito em Recife, um dos melhores do país, mas foi o convívio com a modernidade artística, que já se instalava na capital pernambucana , o que o fez abraçar integralmente caminho dos pincéis, da paleta, da espátula, do estilete e de tantos outros equipamentos próprios para uma produção de quadros, gravuras e todos os múltiplos elementos das artes visuais.

detalhe extraído de foto de Ellisa Elsie
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Do pouco contato com a Faculdade de Direito, descobriu e cultivou o dom da oratória, que veio a empregar anos mais tarde no combate à ditadura militar. Afinal, Newton Navarro sempre foi um personagem revolucionário em  tudo que fez, tendo introduzido no Rio Grande do Norte de seu tempo a linguagem da arte moderna, conforme já se afirmava no Rio de Janeiro dos anos 50. Criou também uma escolinha de artes em Natal para educar  o olhar das crianças para o novo, ou seja, para uma nova maneira de compreender a vida e sua conjugação com a arte do nosso tempo. A Escolinha Cândido Portinari marcou época em Natal e moldou uma legião de novos e bons artistas no Rio Grande do Norte.

Em 1956, quando já exercitava todo tipo de atividade artística, aproveitando-se das múltiplas possibilidades oferecidas pela vertente modernista, Newton Navarro interessou-se pela arte do mosaico. Naquele período, os painéis em pastilhas eram muito apreciados e requisitados, especialmente pelos construtores, que viam naquelas peças reluzentes a possibilidade de valorizar os edifícios de apartamentos, vistos então como uma opção nova, ou mais propriamente  "moderna" de residir.

 

foto de Elisa Elsie para o site
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Nesse contexto, Navarro foi ao encontro de um grande companheiro de artes de sua época, o então jovem Dorian Gray Caldas, também filho de Natal, para realizar em parceria com ele um painel em pastilhas que permanece ainda hoje na parte frontal do edifício Café Filho, no bairro da Ribeira em Natal, na Rua Almino Afonso, número 36.

 

detalhe extraido de foto de Elisa Elsie
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Parece até ironia do destino que o revolucionário Navarro ganhe tanta visibilidade com esta obra no prédio da Ribeira. É que ali, nesse mesmo prédio, a partir do terceiro andar, funciona nos dias de hoje nada mais nada menos que uma repartição da ABIN, ela mesmo: a Agência Brasileira de Inteligência, organismo gerado do ventre do antigo SNI – Serviço Nacional de Informações, que se notabilizou no período da ditadura militar por investigar e identificar as ações dos brasileiros que se batiam pela redemocratização.

Mas para admirar o painel de Dorian Gray e Newton Navarro ninguém precisa bater à porta da Abin. A obra está exposta a quem passa por fora, à vista de qualquer cidadão. Vale a pena apreciá-la, para entender um pouco da obra desses dois artistas do Rio Grande do Norte.

foto de Elisa Elsie para o site
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Navarro já faleceu, mas Dorian Gray Caldas continua na ativa, do alto de seus 79 anos (comemorados em 2009), produzindo arte, reflexões e memórias. Segundo ele, até 1950, não havia um só artista modernista no Rio Grande do Norte. A primeira Exposição de Arte Moderna ocorreu no início dos anos 60, no Salão da Cruz Vermelha, com a participação, além dele, dos colegas Newton Navarro e Ivon Rodrigues. Tal como Navarro, Gray Caldas também percorreu muitas linguagens, quase todas no campo das artes visuais, produzindo gravuras, tapeçarias, esculturas e mosaicos.

Além desses dois pilares das artes plásticas do Rio Grande do Norte, é imprescindível situar a importância de um terceiro nome, falecido nos anos 70, que deixou uma obra admirável em vários domínios das artes plásticas, incluindo a produção de mosaicos. Trata-se de Iaponi Araújo, um artista talentoso que produziu diversos painéis na linguagem das tesselas, alguns deles ainda visíveis  em Natal, nos bairros do Tirol e de Petrópolis. Essas obras são referenciadas em artigo  recente de autoria da antropóloga Gilmara Benevides, no qual comenta com entusiasmo as perspectivas  abertas na atualidade por um jovem e talentoso artista de Natal, Cláudio Damasceno. A presença de sua produção artística vem se impondo na capital potiguar, reservando a ele o papel relevante e de alta responsabilidade de se colocar como o principal herdeiro dessa vertente tão antiga e inesgotável da arte do mosaico no Rio Grande do Norte.

Cláudio Damasceno, os novos ventos das Artes em Natal

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Cláudio tem produzido painéis de muita visibilidade em Natal, ornando prédios, fachadas, praças e outros logradouros. Sua arte valoriza os espaços públicos e renova as soluções técnicas desse ramo artístico,  aprofundando suas possibilidades estéticas. São obras criativas e refinadas, emitindo sinais claros de que o artista tem atitude e garra para levar adiante a valiosa herança daqueles velhos e bons artistas que, antes dele, revolucionaram e renovaram a paisagem artística e cultural do Rio Grande do Norte.

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De certa forma, pode-se entender que   Newton Navarro representa hoje, efetivamente, uma ponte, mas uma ponte em seu sentido mais amplo, além do concreto e do aço. Pois é através da sua experiência vanguardista que  trafegam hoje os mais tarimbados artistas do Rio Grande do Norte, como Cláudio Damasceno, que abraça o espaço urbano de Natal com sua coleção fabulosa de intervenções atraentes e radiantes, comprometidas com o futuro.

H. Gougon, setembro de 2009

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