Lula
festeja obra de arte de Ariano Suassuna: Mosaicos Armoriais
Era
para ser uma festa voltada para saudar as artes e a tecnologia nacional, mas a visita de Lula a Paraíba na última sexta-feira,
dia 31 de outubro de 2003, acabou reduzida, na imprensa nacional, a algumas palavras de inconformismo que o presidente
dirigiu a seus antecessores, acusando-os de covardes pelo pouco ou nada que fizeram para acabar com a fome e a miséria no
Brasil.
Uma
lástima. A viagem, na verdade, foi além dessa cultura política de acusações e mesquinharias. Lula inaugurou um novo terminal
no Aeroporto de Campina Grande e também um painel de cerca de 60 metros quadrados, em mosaico de mármores e granitos, assinado
pelo grande dramaturgo Ariano Suassuna e executado por seu genro, Guilherme da Fonte.
O
que os dois artistas vem realizando pela arte musiva nos últimos anos ainda não foi apreendido ou compreendido pelos brasileiros
do centro-sul do país. Tudo começou em 1996, quando o administrador de empresas Guilherme da Fonte juntou pedaços de tijolos
na porta de sua casa, executando um desenho do sol. A iniciativa chamou a atenção do sogro, que logo encomendou 20 peças e
decidiu realizar uma exposição em conjunto. Ariano chamou a mostra de Mosaicos
armoriais. A idéia está assentada na predileção por símbolos e figuras medievais, que o autor de O Auto da Compadecida identifica
no inconsciente coletivo do homem nordestino que aflora aqui e ali nas manifestações artísticas da região.
A
dupla Guilherme e Ariano não parou mais de produzir mosaicos, que se espalham hoje por diversos espaços de Pernambuco e da
Paraíba, seja em residências particulares seja em áreas de circulação pública.
A
nova obra do Aeroporto de Campina Grande é um ponto alto desta parceria e revela toda a exuberância da iconografia armorial,
somada à poesia que Ariano dedica a seu pai, toda ela executada em granito negro sobre mármore bege. Para quem chegou agora,
é importante lembrar que Ariano é filho de João Suassuna, ex-governador da Paraíba e que dá nome ao Aeroporto de Campina Grande.
Enfim,
a visita de Lula ao nordeste não se resumiu a acusar ex-presidentes. Teve momentos da maior importância para as artes em geral
e para a arte musiva em particular.
A
opção pelo uso de mosaico em aeroportos não é nova. Pelo contrário, é uma preferência que nasceu quase ao mesmo tempo em que
o governo começou a construir os grandes aeroportos brasileiros, como se comprova em um dos mais antigos, ainda da década
de 50, o de Congonhas, em São Paulo, que abriga uma obra musiva vistosa, de época, no saguão principal de embarque. Mais recentemente,
o aeroporto remodelado de Salvador, agora denominado Luís Eduardo Magalhães, recebeu um belíssimo painel em pastilhas vítreas,
assinado pelo artista plástico Glauco Rodrigues que vem se valendo da linguagem há algum tempo (Em 98, Glauco fez um belíssimo
mural em pastilhas Bisazza na entrada da Fundação Osvaldo Cruz, no Rio).
Mas a obra de Ariano e Guilherme da
Fonte na Paraíba impressiona pela força da inspiração artística, retirada do que há de mais profundo das raízes nacionais.
A partir de agora, o turismo paraibano não se bastará na exuberância de suas praias. Daqui para frente, o visitante já desembarca
no Estado, bafejado por essa expressão cultural vigorosa, de caráter duradouro e capaz de sugerir reflexões muito além de
um discurso de ocasião sobre quem foi covarde na administração do país. A imprensa brasileira que me perdoe, mas covardia
é deixar de noticiar um fato artístico desta envergadura.
Gougon,
em Brasília, dia 4 de novembro de 2003
PS: É importante registrar que as fotos anexas foram gentilmente cedidas pelo fotógrafo
Dida Sampaio, de Brasília, que as fez a meu pedido. Têm copyright e não podem ser
reproduzidas sem autorização.