O dragão do mar e o dragão das cores, Aldemir Martins
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O dragão do mar e o dragão das cores

               

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Criado em 1996 pelo governo do Ceará, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é uma área construída em 30 mil metros quadrados dentro de Fortaleza que engrandece o estado por se tornar em tão pouco tempo um espaço de referência para o turismo e para a cultura nacional. Atualmente é quase impensável alguém viajar para a região sem visitar o Centro, que é dotado de anfiteatro, museus, cinemas, salas de aula, auditórios, teatros, galerias, enfim,  todo aparato para o funcionamento de uma casa de cultura, provavelmente a mais importante hoje de todo o nordeste.

 

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Ao contrário do que muita gente pensa, o Dragão do Mar não é simplesmente uma expressão pitoresca e folclórica. Longe disso, trata-se do apelido do jangadeiro Francisco José Nascimento, nascido em 1839, que se tornou um herói popular em função da luta que desencadeou pela libertação dos negros cativos no Ceará. Em 1874, na condição de prático da Capitania dos Portos, aderiu de corpo e alma à luta pelo abolicionismo. Uma de suas primeiras atitudes foi o fechamento do Porto de Fortaleza ao tráfico de escravos. As autoridades locais acabariam por afastá-lo do cargo em 1881, mas sua luta prosperou e o Ceará veio a ser a primeira província do Império a libertar os escravos em 1884, quatro anos antes que a Princesa Isabel assinasse a Lei Áurea. O Imperador Dom Pedro II também cuidou de reconduzi-lo ao cargo com todas as honrarias devidas e Dragão do Mar ainda recebeu na República a patente de major-ajudante, vindo a falecer em 1914.  

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Oito anos após sua morte, nascia em Ingazeiras, no Vale do Cariri, Aldemir Martins, que se tornaria em muito pouco tempo um dos maiores artistas brasileiros do século XX, responsável por uma obra cheia de claridade, de luz e de cores, com as quais cobriu o Brasil de norte a sul. Além de telas, murais, gravuras e desenhos, teve milhares de obras reproduzidas em todos tipos de produtos industrializados, como pratos, xícaras, tecidos, embalagens e até mesmo na abertura de novelas da Globo.

Mesmo quem disser que não o conhece, com certeza já terá, uma ou mais  vezes na vida, cruzado com alguns de seus trabalhos, diretamente, ou mediante reproduções de suas obras em revistas, jornais, catálogos ou por lembrança de seus desenhos na abertura da novela “Gabriela, Cravo e Canela”.

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É uma carreira vastíssima para ser lembrada aqui, mas cabe observar que foi um dos artistas brasileiros que mais cedo alcançou os cumes da glória. Deixou o Ceará em 1945, viajando para o Rio e no ano seguinte foi para São Paulo, onde acumulou prêmios e projetou uma obra vigorosa, na qual se incluem muitas obras murais, incluindo painéis em mosaicos para prédios em São Paulo. Há presença de um deles na fachada de residência no bairro do Brooklin em pastilhas da Vidrotil, realizado em 1955.

 

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No ano seguinte conquistou o maior galardão de sua carreira, o prêmio internacional de desenho da Bienal de Veneza. Sua trajetória continuaria vitoriosa e festejada de exposição em exposição, de prêmio em prêmio, de mural em mural, mas Aldemir afastou-se por muitas décadas das tesselas musivas.

 

Isso só tornaria a ocorrer às vésperas de completar 80 anos quando, na virada do século e do milênio, o Centro Dragão do Mar o convidou para fazer um painel na rampa de acesso ao Anfiteatro. Num gesto de maturidade profissional, Aldemir decidiu então realizar uma obra em mosaico com 28 metros de comprimento, destacando as praias, as dunas, as jangadas, o vento e até as frutas do Ceará.

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Infelizmente, uma grade baixa colocada na borda do terreno dá uma certa segurança pra quem por ali transita, mas impede uma visão completa da obra. Mereceria melhor planejamento arquitetônico.  De qualquer forma, o painel já se tornou um cartão postal do local, tornando-se uma obra fundamental que assinala um gesto importante na carreira de Aldemir por marcar seu retorno, já octogenário, a uma linguagem plástica da qual se afastara por quase cinco décadas. Ele será sempre lembrado pelo muito que fez pelas artes plásticas brasileiras, mas a marca visual que ficará para sempre, com certeza, será este painel no espaço do Dragão do Mar.

 

 hgougon, novembro de 2009