Zenon Barreto, orgulho do povo, descaso do governo
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Obra de Zenon Barreto sangra na via pública

In the state of Ceará, in the Northeast of Brazil, artist Zenon Barreto, passed away in 2002, leaving some meaningful plastic works in public areas. One of the most striking ones is the panel “Estivadores”, which he made in 1965 for the Ceará Exporting Center, which was closed in 1995 and never opened its doors again. From its wall, all the pastilles used in the mural, measuring 200 square feet, have been falling, one by one. Before making this mural, the artist made another work in mosaic for a state department, having as theme the workers of the roads. This work remains whole and well kept.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

 

O painel já foi reformado e a saga da sua reconstrução é descrita em outra página. Vale conferir: O Ceará recupera um ícone da sua modernidade

 

O que vale aqui são as informações sobre os demais painéis deste grande artista, que honrou o Ceará e o Brasil com sua arte - a arte do mosaico. O testemunho sobre o estado de penúria do painel de Zenon Barreto no antigo Centro de Exportadores também fica registrado, para que se compreenda a extensão do estrago e o descaso público com a obra do artista por quase duas décadas.

 

De outra parte, é de nossa obrigação louvar a reforma do painel, assumida pela atual gestão dos órgãos públicos de Fortaleza, que recompuseram o painel de forma competente e necessária, redimindo essa dívida com a Cultura nacional.

HGougon, julho de 2010

 

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Em janeiro de 1995, antecipando-se ao Proer – programa do governo de socorro financeiro aos estabelecimentos bancários em crise financeira, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso decretou a falência do Bancesa (Banco do Ceará), atingindo duramente milhares de correntistas e acarretando, por tabela, danos calamitosos a uma das obras mais significativas da última fase do período modernista cearense: o mural “Estivadores”, que está no prédio do banco no Centro dos Exportadores do Ceará e foi realizado pelo artista plástico Zenon Barreto, em 1965.

 

O Bancesa pertencia à família do patriarca Manoel Machado de Araújo, que veio a falecer pouco depois, deixando bens móveis e imóveis congelados pelo governo federal, entre os quais o Centro dos Exportadores, um prédio de referência no centro de Fortaleza, fechado por muitos anos, desde a intervenção do Banco Central. Descuidado, depredado e assaltado, o edifício é uma chaga aberta na malha urbana da cidade. Humilha os cearenses e atormenta as pessoas sensíveis, desconfortadas com a situação do painel na frente do prédio, do qual se despregam pastilhas cotidianamente, maltratando o espaço urbano e mutilando um pouco da história artística e patrimonial do Ceará.

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O imóvel é um dos marcos da arquitetura moderna cearense. Foi projetado pelo arquiteto José Neudson Braga e encontra-se localizado próximo a outras obras grandiosas de Fortaleza, como o Palácio Coronado e o Palácio do Progresso. Em maio de 2004, o governo estadual baixou decreto declarando que o Centro dos Exportadores deveria se tornar patrimônio histórico do Ceará para “posterior recuperação objetivando a preservação das suas características de antiguidade”. Até agora, porém, a medida ficou só na declaração de intenção.

 

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A família de Zenon Barreto vem discutindo a idéia de criar uma organização não-governamental voltada para o ensino das artes, a valorização do patrimônio artístico local e a construção do Instituto Cultural Zenon Barreto, que poderia reunir e exibir parte do acervo que o artista deixou. Os parentes do artista acreditam inclusive que o local poderia ser o próprio prédio do Centro dos Exportadores, depois de resolvida a pendência judicial que pesa contra o imóvel. Se isso ocorrer, a primeira providência será a reforma do painel, que mostra (ou mostrava) a atividade dos estivadores no porto.

Zenon faleceu em 2002, aos 84 anos de idade, deixando obra vastíssima em peças artísticas e em atitudes profissionais. Participou do movimento de renovação das artes plásticas do Ceará nos anos 40, com Aldemir Martins e o mineiro Inimá de Paula. Existem muitas obras de sua autoria em área pública no estado. Além do painel maltratado do Centro dos Exportadores, é autor da estátua de Iracema Guardiã, na Praia de Iracema, em ferro e cobertura de resina.

Além das obras significativas, o artista construiu uma família consagrada à música clássica, seguindo os passos da viúva, Maria Helena Barreto. O filho único do casal, o violinista Frederico Barreto, guarda um currículo extenso, tendo se destacado ao longo de quatro décadas de atividade profissional em quase todas as orquestras sinfônicas brasileiras. A nora é a pianista Nara Vasconcelos e os dois netos adolescentes, Davi e Pedro, já sobem juntos ao palco nas apresentações de família.

 

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Afortunadamente, o emprego do mosaico na obra de Zenon Barreto não ficou limitado ao painel mutilado no centro da cidade. Antes deste, o artista realizou, em 1961, uma encomenda para o extinto Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), vindo a retratar, nas pastilhas, o conjunto de trabalhadores envolvidos na atividade de construção rodoviária. Ao contrário da outra, a peça está bem conservada na entrada do prédio, que já não abriga a repartição original. O antigo órgão, DAER, foi desativado e o imóvel acabou cedido à Procuradoria Geral de Justiça do estado do Ceará. Os procuradores e os dirigentes administrativos do espaço tiveram o bom gosto de preservar e cuidar da obra de Zenon, ainda que ela trate de tema alheio ao uso atual do prédio. Sinal de maturidade, respeito à obra de arte e reconhecimento dos valores estéticos de uma época.

 

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É importante destacar, também, que Zenon perpetuou sua arte em outro painel igualmente em mosaico realizado na entrada do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). É uma obra de característica simples, mas de grande sofisticação plástica, por transmitir a idéia das velas das jangadas típicas do Ceará, panejando no mar infinito.

 

Ao longo de 2009, o governo cearense resolveu agir no sentido de reformar o prédio do antigo Centro de Exportadores do Ceará transformando-o em instalações da Secretaria de Fazenda. Ocorre que ninguém atinou, até o momento, da necessidade de refazer a obra de Zenon na fachada do prédio.

 

Uma notícia foi publicada não faz muito tempo, pelo jornal O Povo, de Fortaleza, assinada pela jornalista Viviane Gonçalves. A matéria informa sobre a nova destinação do prédio do antigo Centro de Exportadores do Ceará, mas lamenta que ainda não haja qualquer providência para a restauração da obra da fachada. Segue abaixo o texto da jornalista:

 

O antigo prédio do Centro dos Exportadores do Ceará está em reforma e vai abrigar parte do centro administrativo da Sefaz. A restauração do painel do artista plástico Zenon Barreto que decora a fachada do prédio não está inclusa na obra

 

Viviane Gonçalves

da Redação

 

 

Aos poucos o antigo prédio do Centro dos Exportadores do Ceará, no Centro, vai ganhando uma nova estrutura. O local está sendo reformado para abrigar parte do centro administrativo da Secretaria da Fazenda (Sefaz). As obras começaram em janeiro deste ano e estão previstas para serem concluídas em agosto. Entretanto, a restauração do painel que decora a fachada do prédio não está inclusa nas obras do Departamento de Edificações e Rodovias (DER).

 

O painel Estivadores foi criado em 1965 pelo artista plástico Zenon Barreto e retrata a atividade de trabalhadores portuários no Ceará. Há muito tempo, quem passa em frente ao prédio, que já foi sede do Banco do Ceará (Bancesa), não consegue mais visualizar o cenário idealizado pelo artista. O painel está deteriorado, com sinais de pichações, e ameaça cair.

 

O administrador Martinho Batista Neto, 60, trabalha no Centro e acompanha atentamente a reforma do prédio. Ele lembra da época em que o painel foi construído e fica indignado com a situação. “O painel era muito representativo. Liguei muitas vezes denunciando a depredação e o abandono do prédio. Agora, espero que eles resgatem a mesma arquitetura e o desenho do painel”, diz.

 

De acordo com o coordenador de Engenharia de Edificações do DER, Cláudio Nelson, o painel é uma obra de arte e precisa de uma atenção especial. Por isso, a revitalização do cenário ficará sob a responsabilidade da Sefaz - que vai aguardar a conclusão da reforma para iniciar o projeto. Ele explica que todas as medidas estão sendo tomadas para que a arquitetura externa permaneça igual ao original. O engenheiro responsável, Junior Lima, acrescenta que a fachada do prédio será recomposta guardando as mesmas tonalidades.

 

A obra avaliada em R$ 2.483.003,08 será apenas para a reforma e adaptação do prédio de seis andares para receber parte do centro administrativo da Sefaz. O chefe de obras, José Arimatéia, comenta que o prédio estava em situação crítica e precisava de uma reforma urgente. “Parte da estrutura precisa ser demolida porque o ferro da laje está comprometido. Estamos trabalhando apenas com a base da estrutura. Será realizado novas instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias no prédio”, completa.

 

E MAIS:

 

 Zenon Barreto (1918-2002) nasceu na cidade de Sobral e é considerado um dos maiores representantes das artes plásticas do Ceará. Dentre as suas principais obras, estão, a estátua Iracema Guardiã, na Praia de Iracema.