Um tesouro a ser desvendado: os mosaicos do Palácio Guinle

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Um bela edição sobre o Palácio Laranjeiras acaba de vir a público, relatando e ilustrando a história da antiga residência que o empresário Eduardo Guinle construiu entre 1909 e 1913, tornando-se um espaço mítico no coração do Rio de Janeiro.

 

A obra é ricamente ilustrada e contém um relato histórico-político de sua ocupação a partir de 1947, quando foi adquirido pelo governo Dutra (presidente Eurico Gaspar Dutra). A partir daí, passou a abrigar convidados estrangeiros ilustres e também se tornou moradia dos presidentes da República quando em visita ao Rio de Janeiro.

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As fotos do livro são do fotógrafo Pedro Oswaldo Cruz e os textos de Beatriz Coelho Silva e Christine Ajuz. A edição é da Top Books e a obra pode ser encontrada nas boas livrarias do país, especialmente no Rio de Janeiro.

 

Entre as muitas peças de arte que chamam a atenção no luxo interno do Palácio, encontram-se os mosaicos de piso em praticamente todos os cômodos. As fotos registram, mas os autores não mencionam autoria das obras musivas.

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A dificuldade de identificar os autores dos pisos em mosaico em muitos palácios, palacetes, teatros e edificações luxuosas construídos no alvorecer do século XX é uma constante nos trabalhos de documentação e pesquisa sobre esses monumentos.

É possível seguir uma ou outra pista, especialmente quando se verifica nas descrições de estudiosos de arquitetura que o Palácio Guinle (ou das Laranjeiras, como também é chamado), guarda forte influência da arquitetura praticada pelo arquiteto francês Charles Garnier, autor do projeto do cassino de Monte Carlo e da Ópera de Paris.

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Sendo assim, a primeira pista já sugere a possibilidade de que os mosaicos possam ter sido contratados junto à Casa que também produziu mosaicos para a Ópera de Paris. Não foi apenas um artista quem concebeu e executou os mosaicos do Teatro da Ópera de Paris, mas o que mais se destacou e que responde pela maior cobertura musiva foi o ateliê de Gian Domenico Facchina, que se tornaria rico e conhecido pelo feito, tendo exportado peças para dezenas de países, inclusive para o Brasil, onde seus mosaicos ornam pisos e paredes do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ocorre que Facchina faleceu em 1904 e os mosaicos do Municipal vieram para o Brasil em 1908, executados por seus filhos, que mantiveram as atividades do ateliê até meados da secunda década do século XX, quando outro renomado mosaicista e vitralista, Felix Gaudin, adquiriu o ateliê Facchina.

 

Pelos desenhos das peças existentes no Palácio Guinle, é possível que tenham sido produzidos pela família Odorico. Trata-se também de italianos estabelecidos na França, que produziram e exportaram inúmeras obras em mosaico, inclusive nas duas primeiras décadas do século passado. Suas obras tinham forte acento na produção de peças para piso.

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Bem, são todas hipóteses e pistas para serem seguidas, caso haja interesse verdadeiro em identificar e qualificar os mosaicos do Palácio para facilitar posteriormente uma eventual reforma dos mesmos, já que nada é eterno neste mundo.

 

Acredito que a produção deste livro sobre o “Palácio Laranjeiras” foi providencial para o estudo da arquitetura da primeira metade do século XX no Brasil. Mas, do ponto de vista do interesse na pesquisa de mosaico, a obra pode configurar um “case” por evidenciar a grande lacuna representada pela falta de estudos sobre os mosaicos clássicos que ornam grande parte dos palácios antigos no Brasil. Afinal, o livro é um dos estudos mais completos sobre o antigo Palácio da família Guinle. As fotos dizem tudo e retratam fartamente a presença dos mosaicos, mas, infelizmente, não houve quem identificasse a casa responsável pela confecção das obras pavimentares. Uma lástima.

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Pelo esforço dos autores, pela devoção que tiveram na elaboração do trabalho, a obra merece ser adquirida por todos que se interessem pela história política brasileira, pela arquitetura e pelo esplendor do Rio da primeira metade do século XX e por sua preservação.

Para nós, estudiosos da presença do mosaico no Brasil, fica esta lacuna que nos provoca com novos desafios, visando a identificação da autoria de mosaicos tão especiais, que testemunharam décadas da vida política nacional, e que hoje vagueiam pelas páginas dos livros em busca da paternidade autoral. 

 

HGougon, julho 2009