Há mais de quatro anos, mural de Raphael Samu sangra na porta da Universidade capixaba
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Painel de Raphael Samu que retrata a Odisséia do homem no espaço sangra na porta da Universidade capixaba

 

 

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É uma vergonha sem paralelo, ignomiosa, lastimável. Uma obra-mural em mosaico na entrada da Universidade Federal do Espírito Santo vem se desfazendo diariamente; as pastilhas tombam uma atrás da outra e os diretores, os professores, os artistas e os administradores da UFES nada fazem de concreto, há mais de quatro anos, para recuperar o painel assinado por Raphael Samu, um homem octogenário que, além de professor aposentado, é um dos maiores artistas plásticos do Brasil, premiado no país e no exterior, participante de diversas bienais, e hoje vitima do descaso da instituição na qual deu aulas por décadas e pela qual se aposentou.

 

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A gravidade da degradação fica ainda mais dolorosa quando se sabe que o painel foi um símbolo da própria Universidade, construído no início da década dos 70, retratando a epopéia da conquista espacial naquele decênio. A degradação piorou quando a Prefeitura de Vitória resolveu ampliar a Avenida Fernando Ferrari que margeia o muro de entrada da UFES, exatamente onde se localiza o painel. À medida que os marteletes abatiam o terreno, as pastilhas começaram a cair uma a uma. Ocorre que tudo isso começou há quase cinco anos e até agora ninguém tomou providências concretas para a restauração do trabalho artístico de Raphael Samu. O mínimo que se poderia esperar da Universidade é que reparasse os estragos ou que cobrasse judicialmente da Prefeitura pelos danos causados na obra mural.

 

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Depois de lavar as mãos, os dirigentes da Universidade consultaram o artista, que lamentou o ocorrido e aventou a possibilidade de fazer uma terceira obra em outra parede do campus. Mas essa sugestão nunca foi assumida. A Ufes vem deixando o tempo correr. Passa a impressão de que a Reitoria e a Prefeitura universitária estão esperando que o problema caia no esquecimento e fique sepultado no fundo do baú da conhecida falta de memória nacional. Lamentável equívoco.

 

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Há cerca de quatro anos, os alunos da UFES chegaram a promover um protesto, fazendo um mural na entrada do Campus, com repercussão na imprensa. Mas depois disso, o assunto caiu no esquecimento. Só que não dá para aceitar isso. Como cidadão interessado nas obras em mosaico realizadas neste país (e na sua preservação), sinto uma revolta cívica sem tamanho porque o panorama é de desalento e de assassinato da memória patrimonial do país, justamente no centro de uma Universidade federal pública, que tem obrigações com a comunidade e com o governo, recebendo deste os recursos para suas atividades e responsabilidades.

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Quero acreditar também que os alunos da UFES de todos os cursos não devem compartilhar desse descaso relativo ao painel de Raphael Samu. Afinal, é importante salientar que a Universidade Federal do Espírito Santo é uma das poucas instituições de ensino superior deste país que colocou a arte do mosaico entre as matérias fundamentais para a formação artística profissional. Dentre os diversos mestres de seu corpo docente, constava dois nomes de grande reconhecimento internacional, como Raphael Samu e Freda Jardim. Esta faleceu em 2002, sem poder presenciar no campus da UFES a realização de um Congresso Internacional de Mosaico, que ela conseguiu promover no Brasil depois de convencer os estrangeiros que a Universidade Federal do Espírito Santo era um pólo de grande vitalidade e estudo da arte do mosaico. Foi.

 

HGougon, agosto de 2010

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