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Um painel no Centro Cultural Franco Amapaense
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A fauna pantaneira em mosaicos
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Mosaicos além da linha do Equador
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Cláudia Sperb, a arte da cobra
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A arte pública de Zenon Barreto
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Estrigas e a revisão da História
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Roteiro do mosaico no Rio
Mosaico e turismo em São Paulo
O mural de Martinho de Haro
O mosaico de Noêmia Guerra
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A presença de mosaicos árabes no Brasil
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Romero Britto e a crítica
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CLOVIS GRACIANO EM GOIÂNIA
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SAMSON FLEXOR: O CIRCO EM JAÇANÃ
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JOSÉ PARA SEMPRE MORAES
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Mosaicos romanos da Síria
Graciano, o modernista de Sampa
Um projeto de mosaico poético para Brasília

Mosaicos de autores desconhecidos

 

Foi a propósito do Mosaico da Anunciação, uma obra de rigor artesanal executada por artesãos mosaicistas sobre a obra de Ghirlandaio para a Catedral de Florença em 1491, que a arte ganhou a definição de “obra para eternidade”, rejeitada hoje pela quase totalidade dos artistas dos nossos dias.

Depois de Einstein tudo ficou relativo, inclusive o mosaico, mas ninguém pode negar que a arte das tesselas goza de certa durabilidade, sobretudo quando realizada com mármores e granitos, como faziam nossos antepassados gregos e romanos.

Aqui mesmo neste site, já foi comentada uma evidência curiosa que se observa na obra de alguns artistas pintores que, ao final da vida, optaram por elaborar projetos para mosaico, como ocorreu com Portinari e mais recentemente com Glauco Rodrigues, Manabu Mabe, Arcângelo Ianelli e outros.

Aparentemente, a opção pelo mosaico deriva, nesses casos, da premissa caduca da suposta perenidade transmitida pela arte das tesselas, que tanto é antiga quanto duradoura.

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Até por isso, parece estranho que alguns painéis em mosaico executados no Rio de Janeiro nos anos 50 não tragam menção de autoria. Será que o artista não se achava importante o suficiente para assinar a obra?

 

Bem, são apenas hipóteses, mas há outros casos em que a obra é assinada, mas o autor, decorridas algumas décadas depois, torna-se  completamente desconhecido. Não se encontra referências sobre ele nem em catálogos e muito menos na WEB, que é um espaço que abriga de tudo, mas fraqueja quando se quer investigar as décadas vividas por nossos pais e avós. 

             Copacabana e Ipanema guardam um repositório de obras nessa situação. Na rua Paula Freitas, por exemplo, bem perto da Av. Atlântica, um prédio exibe com certa indiferença um painel assinado por “Catelli”. O prédio é dos anos 50 e seus moradores tanto se acostumaram com a peça na fachada que já não a percebem em seus múltiplos significados.  Se alguém ali já se interessou algum dia em saber quem foi Catelli, o que representou em sua época ou que outros trabalhos realizou, guardou o resultado para si próprio. Uma lástima. Talvez não atribuam valor à peça, nem artístico nem pecuniário.

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         Um dos maiores catalogadores de autores de obra de arte no Brasil chama-se Júlio Louzada. Presta um grande serviço público por ter coletado ao longo de muitos e muitos anos todos os nomes artísticos brasileiros, dos pequenos aos grandes, com pequenas resenhas de seus trabalhos e especialidades. Se o nome do artista não estiver ali, dificilmente estará em outro lugar.

O caso do painel da Rua Paula Freitas é intrigante. O único artista “Catelli” que se encontra registro é o de Júlio Catelli, autor de uma escultura exótica em aço, avançadíssima para a época, no patamar superior do monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo.

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Seria ele o Catelli do painel em mosaico? A resposta é muito difícil, até porque os desenhos do mural são modestos enquanto a obra no Monumento dos Pracinhas é complexa. Junto ao nome de Catelli há, em menor destaque, o nome do executor, o mosaicista Paulo Fonseca. Ora, PauloFonseca foi um artista dos anos 50 que se associou ao artista José Moraes na realização de vários painéis em mosaico. Uma das mais importantes peças da dupla foi a execução de uma pintura de um cavalo pintado por Portinari- que foi reproduzida em centenas de peças de mosaico ora para um lado, ora para outro, na parede frontal do Edifício Jockey Clube de Juiz de Fora. (Há registro com fotos do trabalho aqui no site)

Ocorre que Paulo Fonseca foi apenas executor de mosaicos. Nunca criou sua própria arte. E já morreu. Se estivesse vivo, provavelmente poderia explicar quem foi Catelli e situar sua importância nas artes plásticas. Enfim, parece um caso perdido, salvo se filhos ou netos do artista Catelli se interessem no resgate da sua obra.

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Bem, este é apenas um caso, mas há muitos outros. Um deles por exemplo tem grande visibilidade na conjunção entre os bairros  do Leblon e Ipanema, no largo onde começa a Visconde de Pirajá. São duas peças: uma delas exige reparos porque está muito danificada. A outra não: parece estar íntegra. Mas não há assinatura do autor, nem mesmo iniciais. 

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Ainda em Ipanema, na Avenida Prudente de Morais, é possível divisar uma obra na fachada circular mostrando peixes em pastilhas vítreas, mas também não há autoria definida. Os próprios moradores se perguntam a respeito e ninguém sabe quem foi o autor.

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Se o interessado caminhar um pouco mais até a Avenida Visconde de Albuquerque vai encontrar outra peça ainda mais estranha, mostrando uma máscara de teatro com alguns outros elementos de cenários, mas também aí não há qualquer referência sobre quem realizou o painel. Nem iniciais. Nada vezes nada.

 

Em Copacabana o cenário de desconhecimento das obras em mosaico não poderia ser mais lastimável, com a exceção das obras realizadas pelo grande artista Paulo Werneck, que assinava todas suas peças com as infalíveis iniciais PW, que aparecem em dezenas de obras no Rio de Janeiro, em Brasília, em Minas e outras cidades brasileiras. Além de um estilo próprio muito peculiar e de rápida identificação.

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Quem for ao supermercado do Pão de Açúcar no Posto 5, em Copacabana vai se deparar com um painel muito sugestivo ornando ... uma rampa de garagem no prédio anexo. É isso mesmo: na parede lateral da rampa que sai da garagem subterrânea. A obra mostra barcos e coqueiros. Não tem assinatura, mas até mesmo por seu estado de preservação, dá pra perceber que é trabalho de profissional. Só que não há indicação de autoria, nem mesmo iniciais.

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Ainda em Copacabana, bem atrás da entrada do Metrô na Rua Xavier da Silveira, um edifício de apartamentos abriga um mural com as iniciais PVF exibindo um desenho de peixes, tema que parece uma constante em outras peças do bairro. Mas quem é ou quem foi PVF?

Se o síndico não informa, o porteiro não sabe e os moradores não estão interessados, então fica difícil saber.

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Ainda em Copacabana, na rua Santa Clara, bem pertinho da esquina da Barata Ribeiro, há um painel que, sem qualquer favor, destaca-se dos demais pela linha apurada de seu desenho modernista É uma peça figurativa que guarda a elegância de quem sabia e dominava o traço gracioso daquele período.  O painel está na parede da portaria, já no interior do prédio, mas as portas mantém-se fechadas sobre vidros blindex fumé. Pela manhã, a visibilidade é escassa do lado da rua, mas à noite as luzes internas permitem apreciar de fora para dentro a beleza da peça, guardada a distância necessária à justa privacidade dos moradores. Como as demais, o autor também não é conhecido, o síndico não sabe, nem os moradores e menos ainda o porteiro. Fazer o quê?

 

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Os pontos de interrogação atingem ainda um prédio residencial da Rua Figueiredo Magalhães, onde na parede do hall de entrada do prédio surge um painel em mosaico, de execução difícil, reproduzindo nas pastilha a tela de um pintor que retratou o Passeio Público do Rio de Janeiro ainda no período do Império. Nem adianta procurar que não há qualquer menção nem ao nome do pintor nem do executor do mosaico. 

Como autor deste site, escrevo essa página como quem joga uma garrafa ao mar, na expectativa que um ou outro depositário do “segredo” da autoria do painel em mosaico leia essas linhas, reconheça a importância da obra e envie alguma mensagem dando indicações para a identificação do artista. Não tira pedaço e seria bom para as artes em geral e para as brasileiras em particular. Afinal, a partir dessa divulgação aberta e apaixonada dos trabalhos referenciais de mosaicos no Brasil, já foram devidamente identificados painéis e murais de autores seminais para a compreensão do modernismo e das suas vertentes contemporâneas nos dias de hoje. Em Minas, os políticos mais sábios conhecem um ditado: segredo só guarda quem não sabe.

HGougon, janeiro de 2010.