Trechos da entrevista de Clemência Pizzigatti
Faço mosaicos há 50 anos. Executei uma série de trabalhos em São Paulo, na igreja em Penápolis (vitrais), em São Carlos. Piracicaba parece que me descobriu meio tarde, porque agora é que estou fazendo uma série de mosaicos na cidade.
O primeiro executado foi no Mirante de Piracicaba em 1968. Depois executei uma série de trabalhos particulares em residências. O mosaico da Cooperativa dos Fornecedores de Cana de Piracicaba foi executado em 2004, possuindo 50 metros quadrados. Foi feito outro serviço em um cemitério. Atualmente estou executando mais um trabalho em Piracicaba para a COPLACANA e atividades na cidade de São Pedro. Nesta última, foram executados 4 painéis e o coreto na praça. Agora estou fazendo o 5º painel. Estou lá há quatro meses. O sexto foi feito na feira do produtor.
Durante todo este tempo, tenho feito exposições individuais e coletivas. A última foi o ano passado (2007) na semana da ecologia, quando foram expostas as mandalas de São Francisco, e Terra Água Ar e Fogo.
Na igreja de Penápolis foram executados diversos vitrais, sendo que a busca da inspiração foi na Oração de São Francisco. Foi feita a Benção de São Francisco no Batistério. O Cântico do Sol de São Francisco é o tema dos vitrais. (Irmão água, Irmã Luz, Irmã Terra, Irmã Morte, Irmão Vento). Sou franciscana de corpo e alma. Acho São Francisco tão doce.
Também voltei-me para a pintura No início foi aluna do Benedetti (Hugo José Benedetti: 1913-1977). Também fui aluna do Archimedes (Archimedes Dutra 1908-1983), do Dutra (João Dutra: (1893-1983), pintores clássicos de Piracicaba. Depois fui estudar artes na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo. Nesta fase, encantei-me por antropologia, tendo feito o Curso de Antropologia na USP. Na década de 60 fiz muitos modelos de nus. Foi uma época muito rica para mim.
Depois concursei-me. Fui professora do Estado. Ganhei uma bolsa de estudos para ir para a Alemanha, mas acabei não indo porque foi na época da recessão, do golpe de estado e havia muitas dificuldades para sair do país.
Nesta fase fiz pós-graduação na UNIMEP em filosofia. Sou atualmente aposentada da Federal de São Carlos e do Estado. Em São Carlos era professora de arte de terapia ocupacional. Minha cadeira era Recursos Terapêuticos. Entrei em São Carlos dando uma disciplina e deixei quatro disciplinas com as minhas assistentes. Foi um período muito rico.
Mas imagine, só em Piracicaba devo ter tido mais de cinco mil alunos. Nunca me casei. Mas tenho meus sobrinhos que cuidam de mim hoje, com muito carinho.
Gosto de coisas boas, coisas nobres. E dentro deste espírito, guardo com muito carinho os objetos de família. E entre estes, estão uma série de objetos feitos de cobre. O meu fraco mesmo são os copos de cristal. O copo, objeto translúcido, tendo como base a areia é muito nobre. A cerâmica é opaca e pesada, justamente ao contrário do cristal. Ele é ao mesmo tempo forte e frágil. E a função dele é tão nobre quando se usa, que chega a ter o cheiro de calor humano.
Aquela peça pequena que você vê é Nossa Senhora grávida. Quando fui até Jerusalém, visitei uma bica, a Bica de Maria. Conta a lenda que ela estava subindo um morro para visitar Santa Isabel, e estando cansada, sentou em uma pedra. Milagrosamente, brotou água da pedra, e até hoje esta bica existe. Foi daí que surgiu a inspiração para esta imagem. Tenho também uma série de outras imagens.
Esta “Mimi” foi meu tio que me deu. Foi inspirada em antigas imagens. Parece que ela da “Cartilha Sodré”.
Os tachos de cobre são minha adoração. Antigamente costumava fazer doces nele. Cada um deles era utilizado para algo específico. Hoje, na sua grande maioria, estão aposentados.
Trabalhei muito também com arte infantil. Isto fez com que transpusesse isto para minha arte também. Meus professores sempre me chamaram de expressionista.