Os mosaicos de inspiração moura no interior do Instituto Osvaldo Cruz, no Rio.
Alhambra é um imponente Palácio em Granada, na Espanha. Trata-se do último castelo realizado
pelos mouros naquele país. Foi erguido entre os séculos XII e XIV. A rendição dos ocupantes mulçumanos perante os reis católicos
Dom Fernando e Dona Isabel, em 1492, põs fim a oito séculos de presença moura na Península Ibérica, mas sua influência permaneceu,
tanto na arquitetura como nos mosaicos, especialmente os de características geométricas, com que sempre se distinguiram.
O pavilhão mourisco de Botafogo |
|
Onde Cecília Meireles lecionou... |
No Rio de Janeiro até final dos anos 30 do século XX, havia um castelo próximo à praia
de Botafogo, denominado Pavilhão Mourisco. Nele, o educador Anísio Teixeira convenceu a poeta Cecília Meireles a assumir a
direção de uma escola de livros infantis. O projeto ia bem, mas teve que fechar as portas porque em 1937 o governo mandou
demolir para dar passagem à avenida que iria ligar o bairro de Botafogo a Copacabana, através da abertura do túnel do Leme.
Antes mesmo de colocar a pique o velho Pavilhão Mourisco, outro
conjunto de idêntica inspiração foi erguido no bairro de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para abrigar o
mais importante centro de pesquisas na área de saúde e de produção de vacinas no Brasil, por iniciativa do médico sanitarista
Osvaldo Cruz.
|
Era um cientista apaixonado pelas artes e tinha raro gosto pela arquitetura, que
apreciava com um olhar atento à questão do saneamento . No período em que estudava em Paris, ao final do século XIX, Osvaldo
Cruz conheceu e encantou-se com o Observatório de Montsouris, antigo Palácio do Bardo, construído em estilo neo-mourisco e
esse encantamento ficou guardado na alma do sanitarista.
Ao retornar ao Brasil, conheceu, durante uma viagem de trem, o construtor português
Luiz Moraes Junior. O sanitarista ia para Manguinhos e o arquiteto para a Penha, onde trabalhava na reforma da Igreja do bairro.
Do encontro fortuito nasceu o convite para que o arquiteto lusitano realizasse o prédio que sediaria o Instituto de Manguinhos,
dando ao espaço um feição mourisca.
Luiz Moraes Junior saiu-se tão bem na empreitada que prosseguiu administrando obras
ao redor do Palácio, tendo erguido uma dezena de outros edifícios, envolvendo o primeiro. O Palácio principal é todo ele ornado
por peças de mosaico nas paredes e nos pisos. Nestes, compete em alguns lugares com pisos de ladrilho hidráulico e em outros
com pisos de mosaico de madeira, uma verdadeira raridade que encontra poucos paralelos no Rio de Janeiro, entre os quais o
piso do Castelo da Ilha Fiscal, próxima ao antigo Cais Pharoux, hoje Praça XV.
O arquiteto, por sua vez, tornou-se um especialista em edifícios para uso hospitalar
no Rio de Janeiro. Também fez projetos para Petrópolis, cidade administrada por Osvaldo Cruz que para ali se mudou a fim de
tratar de insuficiência renal, que acabou com sua vida em 1917.
No prédio principal do Instituto, que leva o nome do sanitarista, é preciso salientar
que muitos dos mosaicos em seu interior formam desenhos dispostos em “ponto cruz”, ou seja, as tesselas não engendram
linhas sinuosas. Tudo é feito com uma pastilha ao lado da outra horizontal ou verticalmente. Outras peças configuram desenhos
com tesselas de tamanho diferenciado, de rara beleza, aplicados nas paredes.
É no mínimo curioso anotar que há menos de duas décadas, a
direção do Instituto Osvaldo Cruz contratou a realização de um painel para homenagear os grandes sanitaristas do passado.
A obra foi confiada ao artista plástico Glauco Rodrigues que optou pela realização de um grande mosaico. Curiosamente, a peça
foi toda confeccionada em “ponto cruz”, com pastilhas da empresa italiana Bizassa.
|