As fotos do livro são do fotógrafo Pedro Oswaldo Cruz e os textos de Beatriz Coelho Silva e Christine
Ajuz. A edição é da Top Books e a obra pode ser encontrada nas boas livrarias do país, especialmente no Rio de Janeiro.
Entre as muitas peças de arte que chamam a atenção no luxo interno do Palácio, encontram-se os mosaicos
de piso em praticamente todos os cômodos. As fotos registram, mas os autores não mencionam autoria das obras musivas.
A dificuldade de identificar os autores dos pisos em mosaico em muitos palácios, palacetes, teatros
e edificações luxuosas construídos no alvorecer do século XX é uma constante nos trabalhos de documentação e pesquisa sobre
esses monumentos.
É possível seguir uma ou outra pista, especialmente quando se verifica nas descrições de
estudiosos de arquitetura que o Palácio Guinle (ou das Laranjeiras, como também é chamado), guarda forte influência da arquitetura
praticada pelo arquiteto francês Charles Garnier, autor do projeto do cassino de Monte Carlo e da Ópera de Paris.
Sendo assim, a primeira pista já sugere a possibilidade de que os mosaicos possam ter sido
contratados junto à Casa que também produziu mosaicos para a Ópera de Paris. Não foi apenas um artista quem concebeu e executou
os mosaicos do Teatro da Ópera de Paris, mas o que mais se destacou e que responde pela maior cobertura musiva foi o ateliê
de Gian Domenico Facchina, que se tornaria rico e conhecido pelo feito, tendo exportado peças para dezenas de países, inclusive
para o Brasil, onde seus mosaicos ornam pisos e paredes do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ocorre que Facchina faleceu
em 1904 e os mosaicos do Municipal vieram para o Brasil em 1908, executados por seus filhos, que mantiveram as atividades
do ateliê até meados da secunda década do século XX, quando outro renomado mosaicista e vitralista, Felix Gaudin, adquiriu
o ateliê Facchina.
Pelos desenhos das peças existentes no Palácio Guinle, é possível que tenham sido produzidos
pela família Odorico. Trata-se também de italianos estabelecidos na França, que produziram e exportaram inúmeras obras em
mosaico, inclusive nas duas primeiras décadas do século passado. Suas obras tinham forte acento na produção de peças para
piso.
Bem, são todas hipóteses e pistas para serem seguidas, caso haja interesse verdadeiro em
identificar e qualificar os mosaicos do Palácio para facilitar posteriormente uma eventual reforma dos mesmos, já que nada
é eterno neste mundo.
Acredito que a produção deste livro sobre o “Palácio Laranjeiras” foi providencial
para o estudo da arquitetura da primeira metade do século XX no Brasil. Mas, do ponto de vista do interesse na pesquisa de
mosaico, a obra pode configurar um “case” por evidenciar a grande lacuna representada pela falta de estudos sobre
os mosaicos clássicos que ornam grande parte dos palácios antigos no Brasil. Afinal, o livro é um dos estudos mais completos
sobre o antigo Palácio da família Guinle. As fotos dizem tudo e retratam fartamente a presença dos mosaicos, mas, infelizmente,
não houve quem identificasse a casa responsável pela confecção das obras pavimentares. Uma lástima.
Pelo esforço dos autores, pela devoção que tiveram na elaboração do trabalho, a obra merece
ser adquirida por todos que se interessem pela história política brasileira, pela arquitetura e pelo esplendor do Rio da primeira
metade do século XX e por sua preservação.
Para nós, estudiosos da presença do mosaico no Brasil, fica esta lacuna que nos provoca
com novos desafios, visando a identificação da autoria de mosaicos tão especiais, que testemunharam décadas da vida política
nacional, e que hoje vagueiam pelas páginas dos livros em busca da paternidade autoral.
HGougon, julho 2009
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