Sebastião Caboto
era navegador veneziano a serviço do governo espanhol quando chegou à uma ilha nas costas do atual território de Santa Catarina.
O ano era 1530 e o dia 25 de novembro, data dedicada à Santa Catarina de Alexandria. Por causa disto e também para homenagear
sua mulher, Catarina Medrano, resolveu batizar a ilha com o nome de Ilha dos Patos de Santa Catarina.
Quatrocentos
e sessenta e nove anos depois, o artista catarinense Rodrigo de Haro, poeta, intelectual, pensador, mosaicista e artista multifacetado
decidiu prestar uma homenagem à Santa Catarina de Alexandria, padroeira de Florianópolis. Contando com a ajuda do então governador
Espiridião Amin, também devoto da santa, realizou para a Igreja de Santa Catarina de Alexandria, em Florianópolis, um painel
em mosaico que é uma das principais expressões artísticas da cidade.
Rodrigo tem
uma trajetória de vida absolutamente mágica. É filho do grande pintor clássico Martinho de Haro, que certa vez ganhou como
prêmio uma bolsa de estudos na França, onde passou longa temporada. Rodrigo nasceu em Paris e veio bebê para o Brasil logo
que estourou a II Guerra, em 1939.
Literato e dotado
de grande força criativa, é uma espécie de referência segura para qualquer artista catarinense ou para quem quer fazer um
estudo sério sobre a vida cultural catarinense e brasileira. Entre muitas atividades, é autor de todos os cenários do filme
sobre Cruz e Sousa rodado pelo cineasta Sílvio Bach, também catarinense. Rodrigo é membro da Academia de Letras de Santa Catarina
e, entre muitas obras plásticas que brotam de sua pletora criativa, boa parte vem da linguagem musiva, que domina com maestria.
Um de seus trabalhos mais vistosos orna a entrada da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina.
Na penúltima
Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, Rodrigo apresentou um enorme painel em mosaico rodeando todo o evento. Foi
a única obra que ficou no local depois que a exposição acabou, por causa de sua característica de permanência. Fiquei sabendo,
posteriormente, que ele se aborreceu porque, sem cuidados, o trabalho acabou sendo mutilado e vítima de vandalismos.
O mais importante
da obra de Rodrigo de Haro, no entanto, está bem preservado no carinho, na admiração e no apreço dos catarinenses e dos muitos
amigos que guarda por toda parte. Nos últimos anos, vem dividindo seu tempo entre Florianópolis e São Paulo, o que, com certeza,
deve conferir mais visibilidade às múltiplas iniciativas em que sempre se envolve, emprestando seu talento não apenas às letras
e às artes em geral, mas especialmente à arte do mosaico, que tem nele um realizador emérito, pelo estilo, pela força, pela
surpresa de suas obras, pela extravagância do colorido e pela temática, sempre comprometida com nossa latinidade, nossa gente,
nossa fé e nossa cultura.
Entendo que
deve ser uma grande alegria e honra para Santa Catarina (para o Estado e para a Santa) poder contar com Rodrigo de Haro como
seu filho ilustre e devoto. No dia em que for a Florianópolis a única capital que não conheço - vou bater à sua porta.
Henrique Gougon,
em 17 de dezembro de 2003