Jorge Selarón é um chileno nascido em Valparaíso em 1947 que
depois de percorrer o mundo por mais de 20 anos estabeleceu-se, em 1990, no Rio de Janeiro, fixando residência próximo à Cinelândia,
junto aos primeiros degraus de uma escadaria que leva ao convento de Santa Teresa.
Pintor autodidata, trouxe uma bagagem de pinturas com características
muito próprias, de acento tonal marrom e sempre retratando uma mulher grávida, fixação que diz tratar-se de “um problema
pessoal”.
Identificou-se depressa com o Rio de Janeiro, adotando alguns
padrões de comportamento típicos de boa parte de seus habitantes, como roupas sumárias e um vocabulário ornado por muitas
gírias e expressões de baixa extração que não conseguem apagar a impressão principal proporcionada por um jeito acolhedor
e simpático.
Logo se tornou uma figura conhecida quando decidiu cobrir as
escadarias junto à sua residência com quebras de azulejos. Não se trata de escadas como quaisquer outras. Ela tem 215 degraus,
17 lances, 10 descansos e quatro metros de largura! Chama-se ou chamava-se “Escadaria do Convento”, mas sua atitude
foi tão marcante que muitos usuários e os cariocas em geral passaram a denominá-la “Escadaria do Selarón”.
O acesso à escadaria se dá por trás da Sala Cecília Meirelles,
próximo ao Passeio Público. Nos primeiros degraus, Selarón cuidou de cobrir os espelhos da escada com quebras de azulejos
de cores verde, amarelo e azul. “Uma homenagem ao Brasil, minha pátria amada, que adotei depois de conhecer mais de
50 países”, afirma.
O local vem atraindo cada vez mais turista do mundo inteiro,
que Selarón faz questão de receber e apresentar com orgulho sua obra maior. A cada um deles, solicita azulejos que os estrangeiros,
geralmente organizados, costumam remeter depois de regressar a seus países. O artista chileno os coloca nos degraus da escada,
num movimento contínuo de tira-e-põe, que renova todos os dias o visual da área. “Só acabarei este sonho inédito no
último dia de minha vida”, avisa.
Curiosamente, a escadaria ganhou notoriedade internacional. Quem
navegar na Internet vai descobrir que há mais menção e fotos de Selarón nos sites estrangeiros que nos espaços de língua portuguesa.
No ano de 2004, um trabalho semelhante começou a ser realizado
na Califórnia, ligando a Décima Sexta Avenida às colinas de Moraga, em San Francisco, por iniciativa da norte-americana
Jessie Audette, que viveu no Rio de Janeiro por cinco anos. De retorno à sua terra,
levou a experiência de Selarón ao conhecimento da “Golden Gate Heights Neighborhood Association”, que acolheu a idéia. Pelo menos 40 moradores da área inscreveram-se para ajudar na execução
da obra que também envolve dois mosaicistas, encarregados do desenho e da coordenação dos trabalhos. Todo esse grupo trabalhou
duro para concluir a cobertura musiva dos 163 degraus da escadaria já existente na área, com pouco mais de um metro de largura,
ou seja, uma área quatro vezes menor que a que Jorge Selarón realizou sozinho!
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