Nascido em Curitiba no ano de 1924, Napoleon Potyguara Lazarotto é considerado um nomes
mais representativos das artes no Brasil. Fã de história em quadrinhos e de cinema, esse mundo de sonho iria empurrá-lo na
direção de outras linguagens artísticas, às quais se dedicou sempre com grande tino e criatividade. Aos 18 anos de idade partiu
para estudar no Rio de Janeiro, vindo a trabalhar com nomes consagrados do modernismo, como Portinari e Di Cavalcanti. Aos
22, viajou para Paris, onde passou um curto período, entrando em contato com técnicas de impressão em madeira e metal, que
utilizaria com freqüência ao longo de sua carreira artística.
Ao retornar ao Brasil, fixou-se primeiramente em São Paulo, onde ministrou aulas de procedimentos
artísticos e realizou uma série de painéis e murais, sempre retratando personagens populares, trabalhadores, lavradores e
pedintes. Como ilustrador gráfico, realizou trabalhos que deram vida a grandes sucessos de romancistas como Graciliano Ramos,
Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Dalton Trevisan.
Para quem gosta de viajar, recomendo um passeio que fiz certa vez pelos sertões mineiros
que acabou me colocando, novamente, em contato com a obra de Poty. Quando dirigia pela BR 040, entre Belo Horizonte e Brasília,
atinei de sair da pista por uns 20 quilômetros para visitar Cordisburgo e conhecer a casa
onde nasceu Guimarães Rosa, um recanto aprazível, muito bem preservado, limpo e repleto de cartas, bilhetes e fotos do grande
escritor mineiro. Para minha surpresa, encontrei ali, exibidas nas paredes, as matrizes originais de xilogravuras talhadas
por Poty para “Grande Sertões, Veredas” e outros de seus livros de contos.
Além das obras de escritores nacionais, Poty Lazarotto ilustrou edições traduzidas de
autores como Kafka, Edgar Alan Poe e Tchecov. Ao voltar a Curitiba, cobriu a cidade de painéis e murais com características
folclóricas e populares, a grande maioria em azulejos pintados. Morreu em 1998
e seu último trabalho foi exatamente um painel em mosaico, executado para o Teatro Calil Haddad, de Maringá, concluído em
1997, mas somente inaugurado em 2000.
assinatura de Poty e de Adoaldo Lenzi, executor |
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Obra encontra-se no Teatro Calil Haddad, em Maringá |
Pessoalmente, nunca vi a obra, mas fui agraciado com fotos belíssimas, aqui apresentadas, de
autoria da jovem Stela Vilela Boeira, de Maringá, que as providenciou a pedido de meu velho amigo, o veterano jornalista e
professor Manoel Vilela de Magalhães, seu tio.
Maringá conta com uma segunda obra mural assinada por Poty Lazarotto, mas não em mosaico. O
segundo mural é todo em concreto e foi instalado no Shopping principal da cidade.
Até outro dia, tinha para mim que o perfil de Poty como mosaicista era limitado a este
trabalho de Maringá, mas fui surpreendido por uma mensagem vinda de uma paulistana do Butantã, que, de viagem pelo Paraná,
parou na entrada da cidade de Lapa, no Paraná, e ficou deslumbrada com um mural de Poty, toda ele em mosaico de Vidrotil.
A viajante, Gláucia Cuchierato, este o seu nome, bateu várias fotos de qualidade da obra
e conferiu meu interesse pelo assunto, navegando pela Internet. Tomou a iniciativa de me enviar um e-mail, dizendo:
"Estive na cidadezinha de Lapa, PR, onde na sua entrada tem um painel enorme deste mesmo
artista em mosaico, com a figura de tropeiros e seus bois...." Em seguida consultou se eu gostaria de receber fotos da obra.
Como costuma dizer minha mulher, é perguntar ao macaco se quer comer banana.
A representação dos tropeiros e dos bois vagando à frente de pinheiros do Paraná em fundo
branco exibe de forma nítida um contraste de tons claros e escuros dos quais o artista tirou partido para dar dimensão bucólica
à cena de sua predileção, representada pelo movimento vagaroso da vida no campo, em sua terra natal.
O painel que Poty concebeu para a entrada da Lapa teve sua execução confiada ao grande
amigo do artista, o também ítalo-brasileiro Franco Giglio, responsável por dezenas de obras em pastilhas na cidade de Curitiba.
Tanto o trabalho de Maringá, executado por Lenzi, quanto o painel da Lapa, confiado a Giglio,
são obras de maturidade, que Poty Lazarotto realizou após uma carreira gigantesca, ocupada em todos os gêneros artísticos.
O mosaico é, no seu caso, último suspiro de criatividade numa trajetória abençoada
pelo reconhecimento e orgulho de sua gente.
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