Artist Júlio Guerra, native of
São Paulo, became known in the city for a polemic sculpture he made at the entrance of the Santo Amaro neighborhood, depicting
a figure of bandeirantes Borba Gato, all covered by mosaics of hard stone
and marble. The work divides the residents of São Paulo: many despise it; others are happy with its many
colors; and others criticize the homage to the bandeirante Borba Gato, an explorer who captured indians to make them his slaves.
Falsas esmeraldas, pedras de basalto e mármore de verdade
SUMMARY:
Julio Guerra became well known in São Paulo because of a polemic sculpture he made at the entrance
of Santo Amaro estate, in which he portrays the legendary Borba Gato, an explorer of the colonial Brazil
who belonged to a group called “Bandeirantes”. He got famous for discovering emerald and gold mines. The statue is covered with mosaic of hard stone and marble. Some
people hate the statue, some people love it for its profusion of colors, and others criticize the homage for the fact that
the explorers use to capture Indians in order to enslave them.
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O bandeirante Fernão Dias Paes tinha
já 63 anos em 1671, quando foi convidado a chefiar uma expedição cujo objetivo era o de procurar esmeraldas nos sertões brasileiros.
A bandeira só partiu três anos depois e dela faziam parte seu genro, Borba Gato, 40 brancos, na maioria portugueses, além
de muitos índios. A bandeira dirigiu-se até a cabeceira do Rio das Velhas, em Minas, e daí seguiu para além do Vale do Jequitinhonha
(MG), uma travessia marcada por muitos conflitos e lutas no interior do grupo. Sete anos depois, o bandeirante encontrou as
pedras verdes que tanto buscava, mas, doente e exausto, morreu sem se dar conta de que não encontrara esmeraldas, mas apenas
turmalinas, sem valor comercial.
Borba Gato, seu genro, prosseguiu
na vida errante das bandeiras, sempre desbravando o sertão indomável, preando índios e fundando arraiais que mais tarde se
tornariam vilas e cidades. Sua história é ainda mais confusa que a do sogro, envolve disputa de poder, assassinato e fuga.
Recuperou o prestígio porque encontrou ricas jazidas de ouro, cujo segredo de localização trocou pelo perdão e por favores
do Rei.
Seus restos mortais repousam em Paraopeba,
antigo arraial de entrada para os sertões mineiros, mas é em São Paulo que o paulista Manoel Borba Gato é reconhecido por
sua condição de bandeirante e desbravador. Foi ele o primeiro a descobrir ouro no Rio das Velhas, local das legendárias minas
de Sabarabuçu.
Mais de dois séculos depois do feito,
o artista Júlio Guerra, morador antigo do bairro de Santo Amaro na cidade de São Paulo, homenageou-o com uma escultura em
concreto armado recoberta com tesselas de basalto e mármores, formando um mosaico tridimensional, sugestivo e multicor. A
obra foi erigida em 1962, na entrada do bairro, na confluência das avenidas Santo Amaro e Adolfo Pinheiro.
A escultura logo se tornou uma obra polêmica. A revista Veja
concedeu-lhe um “prêmio de feiúra”, argumentando que a obra “simboliza a volta de Borba Gato à cidade depois
de ter passado vinte anos escondido pelo interior do estado”. E também questiona a reverência aos atos praticados pelos
bandeirantes. A publicação cita um rapper da cidade que, segundo a revista, argumenta o seguinte: “O cara mata
um monte de índio e ainda fazem uma estátua para ele?”.
Mas nem todo mundo compartilha do
mesmo sentimento. O apresentador e comediante Jô Soares assume: “Adoro essa obra. Não entendo porque a acham horrível.”.
Detalhe da mão do Bandeirante |
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O artista Júlio Guerra, autor da escultura, faleceu em 2001
aos 89 anos de idade. É reconhecido como um dos moradores mais ilustres de Santo Amaro. Estudou Belas Artes e trabalhou com
Brecheret na execução da estátua em homenagem a Duque de Caxias. Guerra também é autor de diversas outras obras de caráter
público, uma das quais, a “Mãe Preta”, feita em bronze, foi colocada
no Largo do Paissandu, ao lado da Igreja de Nossa Senhor do Rosário dos Pretos. O Centro de Tradições de Santo Amaro inaugurou
um espaço cultural com o seu nome, a estátua musiva de Borba Gato passou por grande limpeza e reforma por conta dos festejos
de 450 anos de São Paulo e Júlio Guerra tornou-se nome de rua do bairro. No carnaval de 2004, a
Escola de Samba Rosas de Ouro desfilou com o tema “Monumentos paulistanos”, inspirando-se em diversas obras históricas
e artísticas da cidade, entre as quais duas de Júlio Guerra, precisamente a obra em bronze “Mãe Preta” e a escultura de Borba
Gato em mosaico.
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O mosaico do Mosaico de Júlio Guerra: uma
metalinguagem de Borba Gato concebida por um Oficial da PM paulista
Partiu do Major Galdino, da Polícia Militar
de São Paulo, a iniciativa brilhante de produzir um mosaico do mosaico que realizou Júlio Guerra, retratando a
figura do bandeirante e desbravador Borba Gato.
A obra é duplamente auspiciosa: primeiro,
porque o objetivo de sua realização parte da idéia de que o mosaico, como peça de arte, ajuda a suavizar a dura rotina
dos policiais-militares nesse tempos difíceis de violência urbana. E em segundo lugar, mas não menos importante, porque se
trata de uma metalinguagem na medida em que usa a linguagem das pastilhas para abordar uma outra obra feita em
pastilhas. É como uma nova leitura com as mesmas letras, mas formando novas palavras e gerando novos significados.
Dessa forma, o novo painel, que está localizado
numa área de descanso da Unidade Militar, se presta também a uma discussão tanto do significado da obra do bandeirante,
quanto da escultura que dele fez Júlio Guerra. Permite também uma nova interpretação de ambas feita pelo oficial da PM. Enfim,
é como um aprendizado dentro do outro, que vai se desdobrando de acordo com a conveniência de cada época.
Neste sentido, além de muito
bem produzido técnicamente, o novo painel da corporação inova no que se refere à sua perspectiva artística, abrindo-se
para novas interpretações ao mesmo tempo em que se vincula a uma figura-símbolo do bairro, o bandeirante Borba Gato. Para
sua execução, o oficial da Policia Militar foi buscar o auxílio do artista plástico Sérgio Secches, um experiente mosaicista,
cujo nome ficou para sempre consagrado pela epopéia da qual participou ao lado de Izabel Ruas Pereira Coelho e de Sônia
Lorenz na execução do gigantesco mural azul concebido por Cláudio Tozzi para a empena de um prédio na av. Angélica, em Higienópolis.
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