ex-orbis, obra de Regina Silveira |

|
Uma das três obras primas do aeroporto de POA |
A Internet derrama virtualmente uma quantidade enorme de informações, quase sempre incompletas. Em todos os
casos, é preciso ir além delas e buscar outras fontes testemunhais quando se deseja descortinar o intangível, especialmente
quando se busca alguma obra de arte ou a identificação de seus autores e a percepção de seu alcance.
Por muito tempo desprezei os testemunhos de pessoas que, chegadas de Porto Alegre, afirmavam ter visto um enorme
mosaico na estação de embarque do Aeroporto Salgado Filho. Por muitas vezes, percorri os sites, oficiais ou não, que revelam
os meandros do aeroporto gaúcho, assinalam as obras plásticas em seu interior e prestam outras informações difusas sobre a
infra-estrutura aeroportuária. Como há duas décadas não visito o Rio Grande do Sul, tinha para mim, pelos testemunhos da Web,
que o suposto mural ali existente seria uma obra de azulejaria e não mosaico.
No programa de pesquisas do Google, o mais completo, sempre aparece, nas “imagens” da Web, fotos
de um painel belíssimo que não é exatamente um mosaico, mas um painel cerâmico, de autoria da inspirada artista Regina Silveira,
que ela registra como “cerâmica sobrevidrada”. A obra denomina-se Ex Orbis. Trata-se de uma composição de extraordinária
qualidade artística realizada em 2001, refazendo máquinas voadoras de toda espécie, reais ou não, de tal maneira que compõem
um trabalho de características anamórficas, de conexões complexas, que a artista destrincha com exuberância e competência
expondo os vastos conhecimentos de uma matéria em que se doutorou, traduzindo-os num mural de 7 por 11 metros
no interior do aeroporto gaúcho.
Obra de Mauro Fuke em tesselas |

|
Mosaico primoroso sobre a vida nos pampas |
Próximo a ele existe outra obra, igualmente de fonte inspirada. É de autoria do fertilíssimo artista Carlos Vergara.
Tanto ele quanto Regina ganharam um concurso para realização de obras de arte que enriquecem o espaço aeroportuário de Porto
Alegre. E o próprio artista prestou seu testemunho, que captei na Web, ao procurar pela existência de um terceiro “painel”
na área interna do aeroporto Salgado Filho. Eis suas palavras:
“Quando me mostraram o local do painel, vi que ele recebia sol o dia inteiro, além de haver uma estrutura de
sustentação que projetava uma sombra nele. Eu não podia ignorar isso e fazer uma coisa que brigasse com essa situação. O painel
é uma grande elipse, aproveitando esses desenhos que são projetados na parede. Se houvesse mais tempo, poderia ter colocado
um relógio de sol. O trabalho não é um mapa-múndi, como alguns pensam. É uma elipse. O espaço é de 36 metros
por 5 metros, eu não podia ser prolixo, era pra
bater o olho e entender. Tem gente que, do aeroporto mesmo, me liga para comentar o painel. Acho que Mauro Fuke resolveu bem
o outro painel, uma coisa difusa sobre o gauderismo”.
mural em curva |

|
beleza e maestria no Salgado Filho |
Só então pude compreender que havia um terceiro painel no aeroporto gaúcho. Logo dirigi meu foco de pesquisa
para Mauro Fuke e eis que surgem matérias, testemunhos, fotos e indicações de uma obra mural em pastilhas de grande expressão
tonal, realizada pelo artista, que completa o trio de grandes e competentes nomes que fazem do Salgado Filho uma verdadeira
galeria de arte de excelência no sul do país. E, no caso da iniciativa de Mauro,
trata-se efetivamente do mural em mosaico que eu tanto ouvira falar, mas não conseguia encontrá-lo na Web.
É obra que encanta por muitos motivos, mas aos meus olhos traz uma carga de encantamento pelo clima pampeiro
que transmite através de pastilhas de matizes frios que enregelam a alma de quem penetra naquele clima úmido e gelado dos
extensos campos gaúchos. A obra de Mauro Fuke permite ao usuário do aeroporto sentir o cheiro do pasto, voar com as aves de
arribação, pisar na terra molhada dos pastos, caminhar com as emas que passam pelos campos úmidos e penetrar no espaço difuso
e encantado da vida rural do Rio Grande do Sul.
Mauro Fuke nasceu em Porto Alegre em 1961 e desde cedo realizou obras plásticas, vindo
a bacharelar-se em desenho pela Universidade Federal do RGS em 88. Sua coleção
de exposições e prêmios é vasta assim como sua presença visual na capital gaúcha. O melhor mesmo é ir direto ao seu blog
clicando em http://mauro-fuke.blogspot.com/para ver como é rico seu currículo, sua arte e, especialmente,
suas intervenções públicas. Dentre essas, quero chamar atenção também para outras obras que realizou com a linguagem das pastilhas,
nas marquises de entrada da Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, em 1991. Enfim, trata-se de um artista
de gênio, dono de uma proposta refinada não apenas nas tesselas, mas nas inúmeras outras opções que vem empregando, tanto
pelos materiais escolhidos, como a madeira, como pelos elementos imponderáveis da surpresa com que atinge e encanta quem penetra
seu vasto repertório artístico.
Frontal de marquise: outra intervenção de M. Fuke |

|
Obra confirma opção pelo mosaico |
Obs.: Gauderismo, de que fala Carlos Vergara, refere-se
à expressão típica empregada no sul para referir-se ao gosto regionalista pela preservação das tradições gaúchas. A expressão
origina-se do chamado índio gaudério, miscigenado e aculturado.
Obs.2: As fotos aqui apresentadas da obra de Mauro Fuke são apenas recortes das fotos do site do artista.
Clicando sobre essas mesmas fotos, você poderá ser transportado diretamente para o site do artista, muito mais completo e
mais rico de informações e imagens de sua vasta produção plástica.Ou, se preferir, siga o caminho: http://mauro-fuke.blogspot.com/

|