A famous name in the state of Santa Catarina’s plastic arts,
Hassis, who passed away in 2000, made some specific work for mosaic-pavement, known in his region as “petit-pavé”.
The work was made in Florianópolis’ main square and it became an exemplary case of patrimonial preservation, due to
the fact that the city edited a book documenting all the pieces and it also put signs at the square indicating the importance
of the work.
Hassis
na Praça XV, um modelo de preservação patrimonial
|
Utilizado
no Brasil desde o final do século XIX ao redor do Teatro Amazonas, em Manaus, e logo depois na pavimentação da Avenida
Central, hoje Rio Branco no Rio de Janeiro, em 1905, o piso com mosaicos em pedras portuguesas espalhou-se depressa por toda
parte do país.
Em
alguns locais serviu apenas de piso, em outros abrigou arte da melhor qualidade e em outros mais, como em Copacabana, tornou-se
uma marca internacional do bairro. Muitos artistas viram no procedimento um espaço útil para difundir suas obras, sendo relevante
lembrar Burle Marx como um dos exemplos mais notáveis, que deixou sua marca em diversas capitais brasileiras. E fico feliz
por citar entre os que contribuíram para embelezar as calçadas com mosaicos portugueses o nome de Elder Rocha Lima, artista
conceituado no Centro-Oeste (pai do artista contemporâneo que leva seu nome e professor festejado da Universidade de Brasília),
que transferiu os desenhos de suas obras para as calçadas de Goiânia.
Pedra portuguesa é a denominação genérica que as rochas de calcário (brancas) e basalto (negras e vermelhas) receberam
desde o primeiro momento em que foram utilizadas no Rio de Janeiro. A razão é simples: o prefeito da época, Pereira Passos,
mandou buscá-las em Portugal e também contratou um grupo expressivo de calceteiros cuja técnica de corte e colocação da pedra
logo seria apreendida pelos trabalhadores brasileiros, permitindo sua difusão por todo o país. Uma década antes de Pereira
Passos, a prefeitura da cidade de Manaus mandou trazer pedras de Portugal para
pavimentar o entorno do Teatro Amazonas, mas eram pedras de lioz, hoje totalmente desaparecidas. Em seu lugar foram aplicadas
posteriormente as chamadas “pedras portuguesas” formando desenhos de onda, como no Rio de Janeiro. Os guias de
turismo da capital amazonense costumam afirmar que as pedras retratam o encontro de águas dos rios Solimões e Negro.
No sul do país, especialmente em Santa Catarina, o mosaico de
pedras portuguesas é conhecido por “petit pavé”. Inspirada na elegância francesa dessa designação, a prefeitura
de Florianópolis recorreu em 1965 a um dos artistas mais importantes da ilha para realizar desenhos especificamente para pavimentação
dos pisos da Praça XV, uma das áreas mais centrais e mais antigas da capital catarinense.
O artista convidado foi Hassis, assinatura assumida por Hiedy
Assis Corrêa. Nascido em Curitiba em 1926, mas residente em Florianópolis desde os dois anos de idade, sua carreira nas artes
plásticas sempre foi marcada por desenhos e pinturas ligados ao folclore ilhéu. E foi este o tema que escolheu para a Praça
XV.
Hassis percebeu claramente que o mosaico de calçada exigia um
outro tipo de desenho, preferencialmente sem linhas finas. A pedra portuguesa ajeita-se melhor com o jogo de formas densas,
brancas e pretas. O artista buscou inspiração nos temas da vida cotidiana de Florianópolis, elaborando desenhos que retratam
os brinquedos da garotada (empinar pipa, pular corda, soltar balões), os folguedos, as profissões tradicionais, o artesanato
local, etc...
As pedras permaneceram no local por três décadas e meia, até
que a série de buracos inevitáveis ao longo do período, exigiu uma restauração que foi iniciada em 1999 e concluída em 2000,
ano em que o artista veio a falecer.
Hassis chegou a participar do processo de restauração. Ao final
da obra e após sua morte, o Instituto de Patrimônio Urbano de Florianópolis (IPUF) propôs a edição de um livro retratando
cada um dos desenhos originais elaborados pelo artista. A iniciativa foi aprovada pela então prefeita Ângela Amin e levada
a efeito por meio de um inventário minucioso com apoio de especialistas da Secretaria Estadual do Patrimônio Histórico. Esses
técnicos valeram-se de grades reticuladas para fotografar os desenhos de forma meticulosa e remontá-los em seguida em base
digital. O procedimento permitiu reconhecer as áreas de perda do desenho original para correções nas futuras intervenções
que se tornarem necessárias. E permitiu também uma visão de conjunto da obra de Hassis, de resto apresentada em um painel
indicativo existente na praça, que chama a atenção dos pedestres para a obra musiva de um dos principais expoentes artísticos
da ilha.
Enfim, trata-se de um verdadeiro modelo que ajuda muito na preservação e recuperação dos desenhos efetuados
em pisos com pedras portuguesas, ou em petit pavé , como as denominam os catarinenses. Seria muito conveniente que este mesmo
tipo de modelo viesse a ser empregado em outras áreas públicas do país revestidas com o mesmo tipo de calçamento. Facilitaria
o trabalho de preservação, agradaria a população e deixaria satisfeitos os artistas que projetaram suas obras em pedra, perpetuando
sua arte no chão.
|