A PRESENÇA E A AUSÊNCIA DE CLÓVIS GRACIANO EM GOIÂNIA
O que fazer depois que um monumento é demolido em área pública? esquecê-lo? desconsiderá-lo? ou reconstruí-lo?
Esse é o dilema que vive
hoje um punhado de administradores públicos, artistas plásticos, políticos e pessoas bem intencionadas da cidade de Goiânia,
que pretendem que a Prefeitura de Goiânia, capital do Estado, banque a reconstrução do painel em mosaico que o artista Clóvis
Graciano realizou para a Praça dos Trabalhadores nos idos dos anos 50 e que foi demolido uma década depois, ao tempo em que
a Prefeitura da cidade era ocupada por Íris Resende e tinha como secretária de Cultura a sra. Maria Guilhermina. A obra ficava
em frente à antiga Estação Ferroviária e retratava a luta de classes, um tema recorrente nos debates políticos da época.
O painel em mosaico de Clóvis
Graciano ganhou uma perspectiva de ser refeito em função de um projeto de lei de autoria de um vereador de Goiânia, Rusembergue
Barbosa, que na condição de Vice-presidente da Câmara Municipal, logrou aprovar a iniciativa.
Na justificativa do projeto,
o vereador afirma que se trata de “uma obra de magnífico valor cultural e histórico que foi destruída em ato arbitrário,
truculento e ilegal pela ditadura militar em 1968”. Afirma também que “o monumento erguido para homenagear os trabalhadores responsáveis pela construção e desenvolvimento
de Goiânia, era uma referência extremamente importante para todas as classes trabalhadores desta cidade”. Apesar de o projeto aprovado estabelecer seis meses para a reconstrução do painel em mosaico,
o prazo já foi esgotado e até agora nenhuma providência foi tomada.
A iniciativa de reconstrução
de uma obra dessa envergadura é louvável e mereceria maior atenção e descortino por parte dos governantes goianos. Ocorre
que o vereador Rusembergue é um personagem considerado polêmico na cidade porque, a despeito de seu interesse na recomposição
do painel de Clóvis Graciano, ele vem fazendo campanha para que seja derrubada na cidade de Goiânia uma das principais esculturas-símbolos
da cidade que é a estatua do bandeirante Anhanguera. O vereador parece ter feito uma revisão histórica do personagem para
concluir que ele foi um preador de índios e, como tal, não mereceria ser alvo de orgulho dos goianenses. Rusembergue é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e suas atitudes polêmicas parecem descredenciá-lo
para encabeçar uma empreitada em favor da reconstrução de uma obra importante como a de Clóvis Graciano ao mesmo tempo em
que pede a demolição de outra, que tem um valor artístico e histórico indiscutível
para Goiânia e para o Estado de Goiás.
Painel de Clóvis Graciano na fachada externa de um prédio em São Paulo: modelo
de restauração e conservação, após sucessivos ataques de vândalos pichadores.
É uma lástima. Essas contradições
não levam a lugar nenhum e apenas desacreditam a iniciativa, que é louvável, da recomposição da obra destruída do grande artista
do mosaico que foi Clóvis Graciano. Em outras páginas deste site é possível conferir
a beleza plástica de outros painéis de sua autoria na linguagem das pastilhas, especialmente o que se encontra na entrada
do mercado de Marapé em Santos e o que fez para um prédio residencial em Higienópollis. Tão interessante quanto é um terceiro
painel na fachada externa de um prédio na cidade de São Paulo, que é um exemplar que merece ser lembrado porque chegou a ser
totalmente depedrado e pichado, mas os moradores do edifício reagiram e fizeram uma bela recuperação do painel, incluindo
um vidro de proteção para evitar outros vandalismos.
Obra de Graciano orna e enriquece prédio de Higienópolis, em São Paulo:
OBRA DE GRACIANO EM HIGIENÓPOLIS |
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VEJA SÓ O QUE GOIÂNIA ESTÁ PERDENDO... |
Graciano nasceu em1907 na
cidade de Araras, no interior de São Paulo. Cresceu depressa nas artes plásticas, vindo a integrar o famoso grupo Santa Helena
que revolucionou o movimento modernista de seu tempo, com Aldo Bonadei, Volpi, Mário Zanini, Rebolo e muitos outros. Foi um
grande parceiro e amigo de Cândido Portinari. O resgate de sua obra em Goiânia seria muito importante para as artes brasileiras
e até mesmo para conjurar esse espírito demolidor do movimento militar de 64 que estaria por trás da destruição do painel
realizado para a capital de Goiás.
painel de Clóvis Graciano no mercado de Marapé, em Santos, é motivo de
orgulho dos santistas.
PAINEL DE GRACIANO EM SANTOS, NO MARAPÉ |
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OBRA DE GRACIANO ENRIQUECE A CIDADE DE SANTOS |
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