SUMMARY
The Nazaré Basilica, in Belém, in the state
of Pará, is the most majestic religious building in the Northern Region of Brazil and famous for the popular belief that attracts
visitors from all over the country in October, during the religious party known as the “Pilgrimage of Nazaré”.
The interior of the church houses rich mosaics from Italy. In the front part of the church,
a great panel hung high causes confusion among visitors, for they show, among historical characters from the 16th Century,
two men wearing suit and tie. They represent the Governor of Pará and the Mayor of Belém in the early 20th Century, when the
Basilica was built.
A Basílica de Nazaré
A partir do século
V a Igreja Romana do Oriente, estabelecida em Bizâncio e rebatizada como Constantinopla (hoje Istambul), identificou nos ícones,
nos vitrais e nos mosaicos as linguagens plásticas ideais para evangelizar os povos “bárbaros” e substituir a
arte estatuária da tradição greco-romana que privilegiava as curvas e a sensualidade de deuses pagãos, então abolidos. Recorrendo
aos mosaicos chapados nas paredes e logo nas cúpulas, a Igreja nascente desfez-se das esculturas musculosas e sensuais do
passado e deu preferência ao emprego do revestimento musivo como sua arte mais vistosa para a difusão mística das cenas bíblicas.
Embora a Igreja católica
portuguesa tenha transportado para o Brasil, desde o descobrimento, seus valores sagrados e estéticos, que remontam ao período
medieval, esse movimento não nos trouxe a arte dos mosaicos porque ela não fora difundida nas igrejas lusitanas, que preferiram
cultivar a azulejaria, seguindo a forte influência da presença moura na Península Ibérica. Esta sim, veio para o Brasil, com
a mesma função que aquela, para revestir monastérios, palácios eclesiais, igrejas e mosteiros.
Abaixo, figuras de santos em mosaicos reluzem dentro da Basílica
O mosaico de tradição
romana (e bizantina) só chegaria às igrejas brasileiras através de padres missionários procedentes da Itália, que entraram
em nosso país a partir do final do século XIX, ora acompanhando a imigração italiana ora enviados para proceder à catequese
indígena, ou seja, dentro do processo de expansão do vasto universo das ordens religiosas ligadas ao Vaticano.
Isso explica porque
boa parte das matrizes, das catedrais, das sés, das basílicas e de outras obras monumentais realizadas a partir do século passado abriga obras musivas no piso, nas paredes ou nas fachadas, realizadas por artistas italianos.
Em certos casos, alguns deles se adaptaram tanto ao Brasil, que costumam ser vistos, na perspectiva de hoje, como ítalo-brasileiros. Sem precisar ir muito longe, é o caso entre muitos, de Antonio Mucci em Minas, ou de Antonio Maria Nardi, em São Paulo, sempre envolvidos com mosaicos
para decoração de igrejas no Brasil. Mucci decorou todo o interior da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte, de toda a igreja de Extrema, na divisa com S. Paulo, e da
Igreja de Salto da Divisa, no alto Jequitinhonha, junto ao território baiano. Nardi cobriu a Igreja de Serra Negra, em S. Paulo, com mosaicos e dezenas de outras pelo país afora.
Dentre todas as igrejas
que abrigam mosaicos, o caso mais exuberante, sem sombra de dúvida, é o da Basílica de Nazaré, em Belém do Pará, toda ela
coberta de obras refinadas, executadas em Veneza e Milão que, com as cores e brilhos de suas pastilhas, impressionam os fiéis
e os mantêm conectados com o sentido místico da Virgem. Sua imagem teria sido encontrada por um caçador, Plácido José de Souza,
no século XVIII, no mesmo local onde a Igreja foi erguida.
Reza a lenda que esse
local era coberto pela floresta e o caçador levou a imagem para casa, mas a Santa retornou à sua morada, na mata. O fato repetiu-se
por várias vezes, até que o Governador da Província decidiu levar a santa para a capela do Palácio, de onde ela também escapou.
A partir daí, a devoção cresceu e a solução encontrada pelos devotos foi a de construir uma igreja no lugar em que a
Virgem foi encontrada. Primeiro, foi construída uma pequena ermida, depois uma Igreja de pedra e cal, despretensiosa, até
que, em 1909, lançou-se a pedra fundamental para a construção da Basílica, iniciada pelo principal defensor da obra, o padre
barnabita Luís Zoia, sucedido pelo também italiano Afonso Di Giorgio. O projeto foi encomendado ao arquiteto italiano Gino
Coppede, que nunca esteve em Belém do Pará. Enviou um projeto que é uma cópia quase fiel da Basílica de São Paulo Extra-Muros,
de Roma, onde vivia.
O início da construção
foi dificultado pela falta de recursos, já que coincidiu com a depreciação do preço da borracha que, até pouco antes, proporcionara
uma riqueza vertiginosa aos produtores da Amazônia. Ainda assim, a devoção à Virgem de Nazaré permitiu que uma corrente de
fiéis contribuísse com os recursos para dar ao templo uma configuração luxuosa, apesar da farta mistura de estilos.
O tímpano reluzente
de frontão triangular da igreja projeta do lado de fora a riqueza musiva que se vai ver no interior. Foi encomendado à firma
Gianese de Veneza e ao ser instalado provocou grande polêmica nos jornais paraenses e confusão entre os visitantes do templo.
Trata-se de um painel
triangular com 19 metros de uma ponta a outra, destacando-se no alto da Basílica. Por recomendação do padre Di Giorgio, que conduziu toda a parte de decoração do templo, os desenhistas
do mosaico foram solicitados a explorar como tema a glorificação de Nossa Senhora pela população do Norte do Brasil. Ao centro fica a imagem da Virgem de Nazaré sobre o Rio Amazonas e, às suas margens,
à esquerda, Frei Henrique de Coimbra (que rezou a Primeira Missa no Brasil), o padre Antônio Vieira, acompanhado de índios
e negros; e do lado direito, Pedro Álvares Cabral, Francisco Caldeira Castello Branco, D. Bartolomeu do Pillar (primeiro bispo
do Pará), o caçador Plácido José de Souza, o padre Di Giorgi (que encomendou a obra), o intendente Rodrigues dos Santos (prefeito
de Belém) e o governador Dionísio Bentes.
A figuração do prefeito
e do governador em trajes modernos, de paletó e gravata, gerou uma certa polêmica, pelo inusitado da cena, e acabou trazendo
confusão aos visitantes da Basílica, que desconfiaram que as duas presenças estivessem ligadas a comerciantes endinheirados,
suspeitos de “comprar” seus retratos na fachada da igreja, como, aliás, era comum em algumas Igrejas da Idade
Média.
Sobre o tímpano há
uma grande cruz, toda mosaicada em ouro, que, segundo o historiador paraense Leandro Tocantins, teria sido extraído das margens
do Rio Gurupi, no sul do Pará. No interior da Basílica, os mosaicos se sucedem em representações religiosas que comovem e
exaltam a fé dos católicos. São 38 medalhões em mosaicos, cada um com um metro e meio de diâmetro. Em números, vale observar
que a igreja possui cinco naves, duas torres com 42 metros de altura, 32 colunas de granito maciço, 54 vitrais, 19 estátuas
em mármore de Carrara, dois candelabros em bronze, 24 lampadários venezianos, nove sinos eletrônicos, um órgão com três teclados
e 1100 tubos.
Nos medalhões em mosaico
estão registradas as principais passagens da vida de Nossa Senhora, inclusive suas aparições. Em outros dez mosaicos, são
retratados os momentos mais significativos da história do Círio de Nazaré, desde a origem da devoção em Portugal. Nas naves
laterais encontram-se também mosaicos que retratam mulheres destacadas na Bíblia e que guardariam virtudes identificadas na
Virgem Maria, como Isabel, Ruth, Esther, Noêmia e Suzana.
|