Maria para sempre Maria Tomaselli
Ela nasceu em Innsbruck, na Áustria, onde se doutorou em Filosofia, mas foi no Brasil, mais precisamente no Rio Grande
do Sul, para onde se mudou em 1965, que Maria Tomaselli Cirne Lima tornou-se uma grande expressão das artes plásticas
nacionais, após estudar escultura com Stockinger, gravura com Eduardo Sued, Danúbio Gonçalves, Ana Letícia e Mário Doglio;
e pintura com Iberê Camargo.
Em sua terra natal já fizera uma iniciação às artes, tendo estudado com o artista Carl Heinrich Walter Kuhn, por volta
de 1961, usando a mãe como modelo para suas primeiras pinturas.
Seu currículo de exposições, premiações, cursos, experimentos e oficinas em geral é enorme e revela uma artista disciplinada,
centrada, talentosa, determinada e extraordinariamente criativa.
É inevitável
observar que o mosaico surge em sua carreira artística como obra de maturidade, que vai desabrochar em sua vida depois de
obter consagração em todas as demais vertentes do discurso artístico. Aparentemente, a arte do mosaico não resulta de uma
opção de caso pensado, mas como decorrência natural da busca para corresponder a algum tipo de proposta de ocupação de espaços
bidimensionais nos quais a quebra de azulejos se ajustaria melhor para conferir
mais vida e expressão cromática que a roupagem das tintas.
Esses experimentos em mosaico iniciam-se com sua participação em espaços do projeto Casa Cor de Porto Alegre e acabam
frutificando em outros locais onde seu descortino artístico identifica na arte das tesselas uma vertente mais adequada para
revestir e de certa forma “proteger” sua obra de intervenção urbana.
De passagem por Porto Alegre ao final de setembro de 2010, tive a alegria de conhecer pessoalmente uma peça de muita
inspiração de autoria da artista, que é uma obra revestida por quebras de azulejo sobre uma escultura representando um casal
de namorados sentados num banco. Ele a enlaça num largo abraço afetivo. Junto
ao casal, há outro banco vazio, também revestido por cacos, oferecendo-se a outros casais de carne e osso para se chegar e
apreciar o sugestivo local onde se encontram: as margens do Rio Guaíba, num espaço tão deslumbrante que os gaúchos designam
pelo sugestivo nome de “Praia de Ipanema”.
Além dessa obra, fiquei sabendo, por meio da Web, que é uma ferramenta útil para descobrir universos de afinidade,
especialmente nessa área de identificação de peças em mosaico, que Maria Tomaselli também realizou, não faz muito tempo, um
painel de 91 metros quadrados,
na entrada da Livraria ArtMed, com tons muito fortes de quebras de azulejo negros, que não deixa ninguém indiferente ao entrar
no espaço livreiro.
É curioso anotar ainda que o mosaico, enquanto obra resultante da união harmoniosa de pedaços, já
se insinuava em algumas peças sugestivas da artista, especialmente em uma das experiências mais extravagantes que foi a obra
denominada Oca Maloca, realizada ao final dos anos 80, com grande sucesso tanto em Porto Alegre quanto em São Paulo para onde a artista levou a proposta. Trata-se de um misto de instalação
e happening, que contou com a participação de dezenas de outros artistas convidados para a concretização da peça, um penetrável
de 10 metros quadrados coberto por ripas
de madeira, abrigando no interior pinturas da própria artista e também de outros expoentes gaúchos, como Stockinger e Iberê
Camargo.
A cobertura da Oca de Maria Tomaselli já parecia indicar a presença de um mosaico sugestivo de ripas coloridas. A peça
evidencia a ousadia permanente e juvenil da artista, que enriquece Porto Alegre com sua pletora de projéteis artísticos, valorizando
o panorama artístico gaúcho e brindando o espaço público com uma arte feita de perplexidades e inquietações, de ousadias e
enigmas. Daqui, deste Planalto Central, ergo a taça e faço o brinde à artista: “Longa vida à Maria Tomaselli!”
HGougon, out.2010
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