Mosaicos ganham espaço em Roraima
Foi às margens do rio
Uraricoera, que nasceu Macunaíma, personagem criado por Mário de Andrade na obra que é considerada a fina flor do modernismo
brasileiro e um dos últimos suspiros literários daquele movimento, em 1928.
PAINEL ARTÍSTICO DE MARLI COELHO |
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O rio Uraricoera corre
no extremo norte do antigo Território de Roraima, hoje um Estado em desenvolvimento cuja capital, Boa Vista, é a única capital
brasileira acima da linha do Equador. No período em que foi Território, o desenvolvimento custou a chegar. Havia poucas estradas,
quase sempre mal conservadas, e escassas terras cultivadas. A pecuária parecia ser a única fonte de renda no campo. Afinal,
boa parte das terras roraimenses é constituida por vegetação de cerrado, do tipo encontrado no Planalto Central brasileiro.
Muitos estudiosos costumam indicar Roraima como o pasto natural da Amazônia.
Obra de Marli Coelho (detalhe) |
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Na expansão econômica
das últimas décadas, várias regiões ao norte do Estado chegaram a ser exploradas por agricultores vindos do centro-sul do
país, sem a devida titularidade da terra. A exploração cresceu de tal maneira que ao final de 2009 o Supremo Tribunal Federal
julgou uma ação, resgatando para as tribos indígenas Ingarikó, Macuxi, Patamona,
Taurepang, Wai Wai, Wapichana, e Yanomami a propriedade da terra.
PAINELARTÍSTICO DE MARLI COELHO |
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O debate em torno do
conflito pela posse da terra colocou Roraima no topo do noticiário nacional, embora o Estado e mais propriamente sua capital,
Boa Vista, tenham muitas outras atrações capazes mobilizar a atenção nacional. Com toda certeza, as artes visuais, exercida
por muitos de seus filhos é uma delas.
Detalhe de peça decorativa de Mary Cei |
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Afinal, Boa Vista é
dotada de muitos espaços abertos à exposição de artes, dentre os quais o Centro Multicultural Antonio Ferreira de Souza, na
Orla Taumanan, é uma verdadeira referência pelas múltiplas mostras tanto dos artistas da terra quanto de outros Estados.
Conhecido apenas como Taumanan, o espaço vem acolhendo, artistas de
todas extrações das artes plásticas, com destaque recente para obras de mosaicistas refinados que têm exibido um vigor construtivo
nunca visto antes na cidade. Nos meses de junho e julho de 2010, os salões foram abertos, primeiramente, para uma artista
recém-chegada à Boa Vista, a paisagista Mary Cei.
PAINEL DE MARLI COELHO |
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Assim que a mostra
chegou ao fim, o Espaço foi novamente ocupado por outra artista do mosaico, esta filha da terra, a artista Marli Coelho, cuja
intimidade com a arte do mosaico é mais antiga. Ela realiza obras em mosaico desde 1997 e trouxe para a exposição nada menos
que 58 peças, todas feitas com cerâmica, vidro e acrílico. Algumas são obras utilitárias, tais como revestimento de vasos,
mesas e bancos, entre outras. A essas se somam outras obras mais conectadas com a fruição estética, tais como painéis e quadros,
que costumam ser apreciados e valorizados no mesmo nível das demais vertentes das artes visuais.
DETALHE DE PEÇA DE AUTORIA DE MARY CEI |
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Mary Cei, que a antecedeu,
é técnica em paisagismo, formada pelo Ibrap de S. Paulo. Ao assumir alguns serviços profissionais para empresas sediadas em
Valdívia, no Chile, entrou em contato com a criação de obras em mosaico, tomou gosto e não parou mais de produzir peças.
É no mínimo instigante
observar o percurso das duas artistas do mosaico que se sucederam na exposição de seus respectivos trabalhos no Espaço cultural
de Roraima. Afinal, foram dois meses sucessivos de mostra no principal espaço cultural do Estado, o que fornece a medida do
vigor com que a arte das tesselas ganha corpo no território mais setentrional do país.
"Borboleta" de Marli Coelho |
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Roraima é terra de
nomes artísticos de projeção além de suas fronteiras, como Afonso Rodrigues, Bartô, Carmézia Emiliano, Franco Melquiorri,
Julieta, Maximus, Renato Costa e Zodeon, entre outros. A eles se somam as duas exímias artistas, Mary Cei e Marli Coelho,
redimensionando a expressão do mosaico como vertente caprichosa da luminosa alma roraimense.
HGougon, julho de 2010
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