Freda: a mosaicista brasileira que encantou os italianos
Obra de FREDA JARDIM no Espaço cultural da CEF |
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Obra encontra-se no Rio de Janeiro, no Centro, no primeiro piso do Espaço Cultural da Caixa. |
Muitos
autores estrangeiros costumam definir a arte do mosaico como “uma arte essencialmente romana” pelo tanto que os
romanos a usaram e difundiram pelos quatro cantos de seu vasto Império. É natural, pois, que a arte permaneça muito viva na
Itália e ali continue cultivada, seja através de restaurações do patrimônio musivo na península seja por meio de criações
contemporâneas, sempre originais e impactantes.
Sendo
assim, é ainda mais surpreendente que uma mosaicista brasileira, Freda Cavalcanti Jardim, tenha se destacado justamente em
Ravenna, berço da criação artística bizantina, tornando-se uma referência para seus colegas italianos.
Nascida
no Ceará em 1926, Freda formou-se em Estatística no Rio de Janeiro, mas sua alma inquieta logo a expeliu do mundo dos números.
“Aprendi a dançar antes de aprender a andar”, dizia. Em 1955, com uma bolsa de estudos, foi parar em Ravenna,
onde se encantou com o mundo dos mosaicos, do qual nunca mais se despegou. De volta ao Brasil ao final dos anos 60 fez uma
releitura da arte bizantina e a adaptou à moda brasileira, agregando vidros, cristais, granitos e outros materiais oferecidos
pela generosa pletora mineral de nosso país.
Lecionou
por quase uma década em Universidades privadas do Rio de Janeiro, como Santa Úrsula e Bennett, transferindo-se então para
Vitória, no Espírito Santo, onde expandiu sua arte, seu círculo de amizades e seu compromisso com o mosaico, encontrando campo
fértil na pesquisa e no emprego de pedras decorativas, especialmente os mármores capixabas.
Convidada
a trabalhar na Universidade Federal do Espírito Santo, juntou-se a outros profissionais igualmente envolvidos com a atividade
musiva, como o professor Raphael Samu, um dos principais expoentes brasileiros na arte das tesselas, e trabalhou na criação
de um Centro de Artes por onde passaram várias gerações de artistas plásticos. Logo conquistou os capixabas, com suas obras
estranhas, em que tirava partido das propriedades inquietantes dos cristais e de outras pedras brasileiras para deixar passar
a luz.
Ainda
que residindo em Vitória, participou da fundação da AIMC, a Associação Internacional do Mosaico Contemporâneo, em 1980, com
sede na Itália. A entidade reúne o que há de mais expressivo e conseqüente no mundo do mosaico contemporâneo e se pauta por
um estreito compromisso com o crescimento da arte e sua renovação artística. No segundo semestre do ano 2000, Freda levou
ao VII encontro internacional da entidade, realizado em Ravenna, um grupo de discípulos e seguidores. No congresso, exibiu
aos mosaicistas europeus o enorme potencial oferecido pelo Espírito Santo, como principal pólo exportador de mármores e outras
pedras exóticas brasileiras, convencendo-os a realizar em Vitória a VIII reunião internacional – um evento que se realiza
de dois em dois anos.
Aceito
o desafio pelos europeus, Freda retornou ao Brasil para organizar o Congresso antes do ano acabar, mas veio a falecer 40 dias
após sua chegada. Da tristeza do luto seus alunos passaram à determinação de realizar o evento, até mesmo como forma de homenageá-la
postumamente. O grupo que vicejou a sua volta mostrou garra e força de vontade para cumprir as responsabilidades assumidas
por Freda.
Compareci
ao certame no segundo semestre de 2002 e posso dizer como fiquei encantado com a organização, o empenho e a expressão de carinho
dos artistas formados pela artista. “Arregaçamos as mangas e demo-nos as mãos e assim nasceu, das cinzas vivas de Freda,
o Grupo Fênix de Mosaico e a Associação Brasileira de Mosaicistas (ABM), com o objetivo principal de continuar a difundir
a arte musiva e criar o memorial Freda Jardim”, assinala um texto produzido por uma de suas discípulas e herdeira artística,
Myriam Pestana, de quem colhi dados para compor esta nota.
Além
das delegações de vários estados brasileiros, compareceram artistas do mosaico de todas as partes do mundo, inclusive os dirigentes
da igualmente poderosa Sociedade Americana de Artistas do Mosaico (SAMA), Sonia King e George Fishman. Tive também o grande
arrebatamento de conhecer no Congresso a mosaicista Ilana Shafir, uma iugoslava octogenária, que vive em Israel e é responsável
por uma linha de produção musiva absolutamente nova e revolucionária, o “mosaico espontâneo”. Mas isto é assunto
para outro capítulo, já que a matéria é vasta como a alma da artista.
Obra de FREDA JARDIM no Itamaraty em Brasília |
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Peça encontra-se no piso térreo, na entrada da Assessoria de Imprensa |
Enquanto
esteve na Itália, Freda deixou inúmeras obras por lá, tanto em Museus como em áreas públicas. No Chile, implantou um painel
na sede regional da ONU, realizado em seu ateliê em Vitória e transportado até Santiago. Em Portugal, executou um painel para
a empresa Grão Pará, em Lisboa, e outro para o Hotel Hollyday Inn, na Ilha da Madeira. No Brasil, também não são poucas suas
obras ocupando espaços importantes em prédios públicos e particulares. Há um mural de sua autoria no pavimento térreo do Palácio
Itamaraty, em Brasília, realizado em 1969, sem qualquer sinalização de sua autoria; e dois painéis para o prédio do antigo
BNH, no Rio de Janeiro, executados em 1971. Depois da extinção do BNH, o prédio passou abrigar o Centro Cultural da Caixa
Econômica Federal, na Avenida Chile, centro do Rio.
Obra permite a passagem da luz através das pedras |
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FREDA escolhia cristais de rocha e outras espécies minerais capazes de permitir a passagem da luz |
O descuido deixa tinta em parte da obra de FREDA |
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Uma lástima, mas a verdade é que os diplomatas não se tocam com a obra da artista Lamentável |
DETALHE: a obra se denomina A TERRA É AZUL |
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Foi criada logo após o vôo solitário e pioneiro de Yuri Gagarin ao espaço |
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