A música e a obra musiva de Gastão Formenti
Na
segunda metade da década de 20, o surgimento dos primeiros gravadores, vitrolas elétricas, microfones e alto-falantes alterou
profundamente o modo de cantar conforme se praticava até então. O costume desde a invenção do gramofone era abrir a voz, gritando
para que a voz marcasse os sulcos de cera na matriz dos discos, conforme fazia Vicente Celestino, com grande sucesso.
A
nova tecnologia mudou esse panorama na medida em que permitiu uma voz mais natural, não gritada, mas cantada. É nesse novo
espaço melódico que surge Gastão Formenti, um paulista filho de imigrante italiano que vai tirar proveito do jeito novo de
cantar, fazendo uma carreira meteórica ao gravar sucessos como Ontem ao Luar (letra
de Catulo da Paixão Cearense), Casa de Caboclo (Chiquinha Gonzaga), Maringá (Joubert de Carvalho) e muitos outros.
Sua
primeira aparição nas ondas do rádio ocorreu em 1927 e logo conquistou vasto público, fazendo sua primeira gravação pela Odeon.
Durante toda a década de 30, cantou em saraus e nos palcos-auditórios das principais
rádios do Rio de Janeiro lançando discos um atrás do outro.
Ao
todo, foram 153 discos em 78 rotações (rpm), com 299 músicas. Seu sucesso foi enorme, mas nunca maculou ou alterou a essência
de sua formação, herdada do pai, o italiano César Formenti: a arte dos vitrais e dos mosaicos, além da pintura clássica, especialmente
o paisagismo.
Dele
se conta um episódio que me foi confirmado pelo filho, o arquiteto Godofredo Formenti, antigo morador do Leblon, no Rio, onde
foi um craque no futebol de praia. Certo dia, uma fã de Gastão ficou emocionada ao saber que, além do canto, ele era um excelente
pintor.
“Quer
dizer que além de cantar, o sr. pinta?” – perguntou.
“Não
senhorita, além de pintar, eu canto”, respondeu na bucha, conferindo a exata medida de seu compromisso profissional
e de vida.
Gastão
Formenti nasceu em Guaratinguetá em 1934, aprendeu as primeiras letras em São Paulo, onde também estudou pintura com Pietro
Strina (1874-1927), mas completou o curso ginasial no Colégio S. Bento, no Rio,
onde sua família se instalou em 1910. Logo começou a trabalhar com o pai em obras de vitrais e de mosaicos, ramo que trouxera
a família ao Brasil.
Ele
sempre considerou sua carreira musical encerrada em 1941, ano em que passou a dedicar-se integralmente às artes plásticas.
Ainda assim, atendendo a exigência do público, lançou mais quatro ou cinco discos até 1959, por gravadoras diferentes (RCA
Victor, Sinter, Odeon e Copacabana).
Algumas
das obras que assinou foram executados em parceria com o pai, falecido em 1944, sendo a principal a decoração interior da
Igreja de São Sebastião na Rua Haddock Lobo, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, conhecida como Igreja dos Capuchinhos.
O templo também abriga o marco de fundação da cidade do Rio de Janeiro e a lápide do túmulo de Estácio de Sá, seu fundador.
É
igualmente de autoria de pai e filho os mosaicos e vitrais da Igreja anexa ao Colégio Santo Inácio, na Rua São Clemente, no
Rio de Janeiro, um dos mais tradicionais educandários da cidade.
As obras dos Formenti - o pai, Cesar, e o filho, Gastão - guardam as assinaturas do nome de família.
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