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Mosaico de revestimento no Cristo Redentor

At the summit of Mount Corcovado, the Christ the Redeemer, with open arms over the city of Rio de Janeiro, is a mighty work wholly surrounded by thousands of tassels in soapstone, of triangular shape (3cmx3cmx3cm) and 7 mm thick.  Its construction was only possible after a railroad was opened to the summit, during the Imperial Era (1884).

 

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Inaugurada em 12 de outubro de 1931 no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor é um dos principais monumentos da Cidade Maravilhosa. O que pouca gente conhece é a história de seu revestimento, com milhares de pequenas placas finas de pedra-sabão. Poderia ser considerado o maior mosaico do Brasil, mas a obra nunca teve essa pretensão. Seu objetivo efetivamente sempre foi o de revestir a obra e protegê-la de infiltrações, no que obteve êxito ao longo de muitos decênios.

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Na época de sua construção, foram apreciados diversos materiais para revestimento. Acabou prevalecendo a pedra-sabão por ser mais resistente ao tempo e também porque não deforma nem racha em função das variações de temperatura. As peças foram cortadas em pequenos triângulos eqüiláteros, cada aresta com 3 cm e espessura média de 7 mm.

 

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A aplicação sobre a argamassa não se deu uma a uma. Para agilizar o processo, foi adotada uma técnica indireta, muito conhecida entre os que trabalham com mosaico. As “tesselas” (pequenas unidades do mosaico), foram coladas uma ao lado da outra sobre um pano de linho fino. Cada vez que se completava a colagem de uma “toalhinha”, estava pronta mais uma parte do revestimento para ser aplicado com argamassa fresca sobre a superfície da estátua do Cristo.

Para esse trabalho da colagem das tesselas uma por uma sobre paninhos de linho, os autores do projeto se socorreram do voluntariado feminino da Paróquia da Glória, no interior de uma oficina improvisada ao lado da Igreja. As devotas acorreram ao local todos os dias para caprichar na tarefa de compor as pequenas peças uma ao lado da outra.

Como se verificou que a argamassa receberia melhor as peças se elas fossem arranhadas na superfície de aderência, as voluntárias foram solicitadas a fazer ranhuras nas peças. Muitas delas aproveitaram para escrever seus nomes com um estilete ou mesmo o nome dos santos de sua devoção. Tudo isso ajudou na hora de fazer o revestimento.

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Essa cobertura mostrou bom resultado por mais de 50 anos. A partir da década de 80, algumas tesselas começaram a cair, menos pela escolha do material do que pela argamassa de sustentação, na qual começaram a surgir as primeiras rachaduras e infiltrações. Houve um momento em que um pedaço grande do manto do Cristo veio abaixo. O Instituto Militar de Engenharia chegou a examinar as infiltrações e concluiu pela necessidade imediata de conserto.

A Fundação Roberto Marinho liderou então a campanha para a reforma, que ocorreu, pela primeira vez, em 1990. Na ocasião, cerca de 90 metros quadrados do revestimento foram substituídos. Nessa primeira reforma, a pedra-sabão empregada procedeu do mesmo veio original, da região de Carandaí, em Minas. O revestimento foi submetido a um jateamento de areia, que nivelou a aparência das tesselas, cobrindo todos os possíveis remendos.  Por último, o monumento recebeu uma camada de silicone hidrófugo, que protege da umidade, mas não impede que a pedra “respire” através de pequenos poros.

 

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Mais recentemente, durante uma nova reforma que restaurou elevadores e instalou escadas rolantes de acesso ao monumento em 2003, verificou-se que cerca de 15 por cento desse revestimento estava prejudicado e as peças foram novamente substituídas por outras que, originárias de um veio diverso de pedra-sabão, não guardam a mesma cor verde das demais. São de coloração mais acizentada.

A conquista do Corcovado

Os caminhos que levaram á construção do Cristo Redentor no alto do Corcovado começam ainda no Império. Dom Pedro I foi a primeira pessoa a escalar o morro do Corcovado. Curioso, jovem e hiper-ativo, o monarca gostou do que viu e em 1824  mandou abrir um caminho até o topo para poder atingí-lo de cavalo. Em uma dessas expedições, levou a mulher, a Imperatriz Leopoldina, que se encantou com a exuberância da flora nativa, e também Jean-Baptiste Debret, que documentou a visita através de desenhos que mostram as paisagens deslumbrantes ao longo do caminho.

 

Mas a primeira pessoa a imaginar a construção de uma estátua de Cristo no alto do morro foi o padre lazarista Pedro Maria Boss, defensor da proposta em 1859. Teve na Princesa Isabel uma forte parceira interessada na idéia. O Imperador, seu pai, mandou fazer os primeiros estudos para a construção de uma estrada-de-ferro até o topo do Corcovado, mas a execução só começou um pouco mais de 20 anos depois. Teve como ponto de partida uma estação no bairro do Cosme Velho, de onde ainda hoje parte a composição que leva diariamente milhares de turistas. A obra foi inaugurada em 1884, funcionando com máquina a vapor e com sistema de cremalheira, uma audácia tecnológica para a época. Na República, a situação da ferrovia foi-se degradando e já em 1903 a companhia foi à falência. Em 1905, o governo republicano entregou a exploração de energia elétrica na antiga capital federal à empresa canadense The Rio de Janeiro Tramway Ligth and Power Co., mais conhecida como Light, transferindo também a ela, na bacia das almas, a concessão da Estrada de Ferro Corcovado. A Light efetuou a modificação do sistema a vapor para o de eletricidade e tornou a operar a ferrovia em 1909.

 

A construção do Cristo Redentor

Já a idéia da construção do Cristo Redentor só foi retomada em 1921, no corpo dos projetos que marcariam os festejos do centenário da Independência, em 1922. O projeto original é do engenheiro Heitor da Silva Costa, que conquistou o direito de fazer a obra através de concurso público.

 

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Sua primeira idéia foi a de realização de um Cristo carregando uma cruz numa mão e um globo na outra. Um modelo em escala pequena foi confeccionado e exibido numa vitrine no centro do Rio de Janeiro. O público estranhou o projeto num primeiro momento e passou a chamar a obra, em tom jocoso, de o “Cristo da bola”.

Heitor da Silva Costa acabou optando por outro modelo, sugerido pelo artista Carlos Oswald : um Cristo com os braços abertos. Logo,  uma delegação foi enviada a Paris para procurar um escultor notável capaz de modelar partes da obra, especialmente o rosto e as mãos. O artista contratado foi o polonês radicado na França, Maximilien Paul Landowski, que se destacava por sua ligação com o movimento art déco. Ele executou em terracota as mãos e a cabeça de Cristo, enviando as peças para serem construídas no Brasil. Na realização das mãos, valeu-se da ajuda de sua amiga brasileira, a poetisa e declamadora Margarida Lopes de Almeida (filha da escritora Júlia Lopes de Almeida) que ofereceu suas próprias mãos para a modelagem das do Cristo Redentor.

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A memória patrimonial resgatada do porão

 

Depois de inaugurada a obra, a cabeça esculpida por Landowski foi deixada por muitos anos nos porões de um casarão em Santa Teresa até ser redescoberta em 2003, e levada a leilão, arrematada pela Prefeitura do Rio de Janeiro (exercida por César Maia), pelo preço de R$ 84 mil.

 

Os cálculos estruturais da obra foram feitos por Heitor da Silva Costa e contou com o auxílio permanente dos arquitetos Pedro Vianna da Silva e Heitor Levy. Este último montou residência ao pé do canteiro de obras e ali permaneceu durante todos os anos da edificação. Sendo judeu, acabou por converter-se ao catolicismo, deixando no interior do corpo do Cristo Redentor uma garrafa com os nomes dos integrantes de sua árvore genealógica.

 Toda essas etapas da construção do Cristo Redentor foram estudadas e resgatadas pela cineasta Maria Isabel Noronha, que é bisneta do engenheiro Heitor da Silva Costa e realizou um documentário de grande riqueza testemunhal. Recomendo a todos que se interessam pela história do Cristo Redentor a adquirir o vídeo, que é encontrado em boas casas e livrarias do Rio de Janeiro. É peça para ser vista, apreciada e guardada com carinho pelos tantos depoimentos e informações apresentados mediante uma narração clara, objetiva e coloquial.

Uma obra de primeira grandeza

 

Enfim, o revestimento do Cristo Redentor é muito mais que um mosaico-gigante. É uma obra de equipe, uma iniciativa ousada, de caráter conceitual, que merece mais atenção e reflexão sobre a importância de suas características singulares.

 

Vista hoje em seu conjunto de aspectos diversos, como faz o documentário da cineasta Isabel Noronha, trata-se de peça artística de expressão contemporânea, que orgulha os cariocas e engrandece o Brasil aos olhos de seus próprios filhos.

 

hgougon, agosto de 2009

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