abaixo, fachada do painel de Amélia Toledo para a Pousada Morgenlicht, perto de Nova Friburgo. Requinte por dentro e
por fora.
Deixei o Rio e me transferi para Brasília na virada de 64 para 65. Fiz vestibular para
Engenharia na UnB, passei e fui conferir. Peguei a cidade completamente incompleta. Muita poeira, muitos mosquitinhos, que
a população chamava de “lacerdinhas”, em referência a Carlos Lacerda, o político golpista, que infernizou a vida
de Juscelino e que sempre se antepôs à construção da nova capital no Planalto Central.
Fui morar no campus da Universidade de Brasília, num alojamento chamado “Oca”,
que era feito em madeira por uma empresa assim denominada que marcou época nos anos 60 por seu perfil gestalt de fazer projetos para interiores. O alojamento era próximo
ao Instituto Central de Artes, o ICA, que eu freqüentava prazerosamente, espiando os desenhos de observação, a gráfica, as
impressoras de gravura (uma das quais, para impressão em lito, pertencera a Portinari, um luxo).
Ali conheci, sem conhecer, a professora Amélia Toledo, que meus colegas dos cursos de
arquitetura e de arte chamavam de “Amelinha”, em tom de intimidade que eu invejava. Dentre esses companheiros,
Breno da Silveira, Marçal, Brunão, Jaime Golubov, Kristian Schell, Jacó Sanovics, e tantos outros que me enchiam de alegria
e admiração.
Novamente abaixo, foto do painel de Amélia Toledo para a entrada da Pousada Morgenlicht, na região de Nova Friburgo.
Vale o passeio. Passeie pelo Vale.
Nunca tive com Amélia Toledo a mesma intimidade que eles desfrutavam, apenas a admirava,
de longe.
Amelinha nasceu em 1926 em São Paulo (SP), Um dos primeiros ateliês que
ela freqüentou foi justamente o de Anita Malfatti no final da década de 30. Nos anos 40, estudou com Takaoka e em 48, com
Waldemar da Costa. Estudou em Londres ao final dos anos 50 e, de volta ao Brasil, já nos anos 60, foi convidada a lecionar
na nascente Universidade de Brasília, onde ganhou o diploma de “mestre” por “reconhecido saber”.
Para a minha total surpresa, reencontrei-a mais recentemente, sempre “de longe”,
na minha pesquisa incessante em busca das obras significativas em mosaicos realizadas nas últimas décadas.
Amelinha fez muitas obras em mosaicos. Ah, e como fez, sempre com talento e
sempre belíssimas. A mais requintada, sem dúvida é a que projetou para a Pousada Morgenlicht, numa área bucólica próxima a
Nova Friburgo, no Estado do Rio. O projeto arquitetônico da pousada, veja só, é de um de seus ex-alunos, Breno da Silveira,
um dos arquitetos mais requisitado do Rio de Janeiro.
Embora seja o de maior beleza, o painel de entrada da Pousada Morgenlicht não é o de maior
visibilidade, por uma razão óbvia. É que Amelinha é autora de todos os trabalhos em mosaicos que ornam interna e externamente
a estação do Metrô Cardeal Arcoverde, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A obra,
no espaço externo, é uma viagem cromática entre as tonalidades variantes que vão do azul ao roxo, cuja percepção mais sensível
se realiza na medida em que se dá uma volta ao redor da estação. No interior, as variedades em branco também mexem com os
espíritos mais sensíveis. O projeto com suas sutilezas cromáticas proporcionou-lhe um prêmio do Instituto dos Arquitetos do
Brasil.
Amelinha teve sua vivência artística sempre impulsionada pelos ventos do crescimento e
da inventividade, que a levou às premiações em muitas Bienais e às exposições
de sucesso dentro e fora do Brasil.
Retornou a Brasília ao final dos anos 90, quando foi chamada para a realização de uma
obra no Instituto Rio Branco, prédio anexo ao Palácio do Itamaraty. Ali, projetou e executou “Aguar”, uma obra
em mosaicos de pastilhas adornando o piso de um laguinho borbulhante com formação de verde-amarelo, na qual o amarelo é formado
por pastilhas vítreas forradas de papel em ouro e o branco por pastilhas forradas de papel de prata. Uma delicadeza só.
(H. Gougon, em fevereiro de 2009)
abaixo, foto de uma pequena mostra do devaneio cromático proporcionado pela obra de Amélia Toledo na entrada da
Estação do Metrô Cardeal Arcoverde, em Copacabana.
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