O ROMENO SAMSON FLEXOR ILUMINA JAÇANÃ COM A OBRA 'O CIRCO' NO HOSPITAL S. LUIZ GONZAGA
Instalado em 1904 numa fazenda em Jaçanã, em S. Paulo, o
Hospital Psiquiátrico São Luiz Gonzaga é uma instituição centenária respeitável por onde já passaram médicos renomados, como
Euríclides Zerbini, que ali chegou em 1937 como médico voluntário e saiu quase 20 anos depois, após ascender à posição de
chefe do Departamento de Cirurgia Torácica.
Em 1968, o São Luís Gonzaga tornou-se um hospital geral e ao final da década
de 70, atravessou seu momento mais difícil, chegando a ser desativado por problemas financeiros. Em 1988 voltou a funcionar,
já então como hospital municipal. E, em 1994, retornou ao controle da Santa Casa. O pronto-socorro foi reativado e as atividades
normais foram retomadas. O Hospital continua sendo hoje um dos mais importantes do município, com 280 leitos de internação.
Painel de Samson Flexor enche os olhos |
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Obra é dos anos 50 |
O que pouca gente sabe é que o Hospital abriga em suas instalações uma série de obras de arte de grande valor, algumas
adquiridas, outras doadas. Há pinturas de Volpi e pelo menos um painel chama atenção pelo seu colorido intenso e pelas figuras
concretistas que retratam artistas de circo. O painel foi realizado em pastilhas de vidro e seu autor é ninguém menos que
o romeno Samson Flexor.
Samson nasceu numa cidade chamada Soroka em 1907. Sua história de vida é aventurosa,
dramática e lírica. Aos 15 anos de idade, já se encontrava na Bélgica estudando química, mas simultaneamente freqüentava a
Academie de Beaux-Arts. Em seguida passou às Academias Ranson e de la Grande
Chaumière, em Paris. Ligou-se ao
grupo de André Lothe, Fernand Léger e Matisse.
Nascido em berço judeu, converteu-se ao catolicismo em 1933, dedicando-se, depois disso, à realização de pinturas religiosas.
Quando eclodiu a II Guerra Mundial, sua pintura modificou-se substancialmente, ganhando contornos negros e cinzas. Iniciou
estudos expressionistas e cubistas, efetuando pinturas abordando a Paixão de Cristo. Integrou a Resistência Francesa, mas
acabou obrigado a deixar a França, vindo a residir no Brasil.
Aqui, encontrou terreno fértil para o desenvolvimento de uma arte mais liberta
e colorida. Fundou em São Paulo o Ateliê Abstração
e entrou em litígio estético com os concretistas, a quem chamava de “concretinos!”.
Diz o crítico Sérgio Milliet que “o teste para entrar no Ateliê
Abstração consistia em desenhar um violão com régua e esquadro”. A busca de formas mais orgânicas acabaria por levá-lo
de volta à figuração. É dessa época, na década de 50, o projeto de painel que realiza em pastilhas de vidro, para o Hospital
Psiquiátrico de Jaçanã, mostrando artistas de circo em formas simples e despojadas, bastante infantis.
O painel continua no local, bem preservado e ao lado de outras obras de arte
que relatam um tempo de emoções e renovação de esperanças, característico do pós-guerra. Samson Flexor faleceu em
São Paulo em 1971, mas deixou um legado tão importante que continua sendo reexaminado e reestudado ainda
hoje. Há menos de dois anos, o Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro, apresentou uma exposição retrospectiva de sua obra.
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