obra na Igreja do CARMO, em Belo Horizonte |
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Mosaico é uma atitude primária em todos os processos civilizatórios
da Humanidade. Agregar pedaços para a formação de uma outra peça é coisa de instinto, procedimento natural, impulso primordial
do homem. Nossos indígenas fizeram e fazem mosaicos de penas reconhecidos como
“arte plumária” na forma de cocares, mantos e ornamentos. Os povos pré-colombianos usaram pedras como topázios,
esmeraldas, turquesa e também madrepérolas para revestir caveiras, objetos cerâmicos, objetos de madeiras em forma de serpente
e artefatos variados.
Como fato artístico, a técnica dos mosaicos ganhou dimensão universal
a partir de sua absorção pelos romanos que a empregaram primeiramente nos pavimentos
e depois nas paredes. No período bizantino, a partir do século V, a arte musiva subiu ao céu, ocupando tetos e cúpulas das
igrejas, usada a partir de então para a difusão do evangelho, espalhando-se por toda Europa Oriental.
Mas a grande característica deste trabalho, segundo o testemunho dos
historiadores que a estudaram, é o anonimato. Ninguém conhece os autores das obras primas de Ravenna na Itália. Não assinavam
as peças. Também são desconhecidos os realizadores dos mosaicos de Hagia Sofia, em Istambul, antiga Constantinopla. O anonimato,
há que se lamentar, é um aspecto terrível, às vezes trágico, da realização musiva que herdamos. Nas escavações arqueológicas
os mosaicos apresentam desenhos, figuras, situações e às vezes textos que ajudam significativamente na compreensão do período
histórico a que se referem. Mas o autor dos mesmos ninguém sabe, ninguém viu.
Isso talvez ajude a explicar porque se conhece tão pouco a obra dos
mosaicistas brasileiros em geral e de um nome ilustríssimo dessa arte, como Alfredo Mucci, em particular. Trata-se de um ítalo-brasileiro
que honrou e dignificou a arte musiva no Brasil, difundindo painéis, murais e obras de revestimento em muitas igrejas em Minas
Gerais.
Mucci em J. Fora: A origem da moeda |
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obra prima do mosaico nacional |
Ele é o autor do único livro publicado em nosso país sobre Mosaicos.
Foi lançado em 1962 pela editora "Ao Livro Técnico", do Rio de Janeiro, com o título de "Compêndio Histórico-técnico da arte
musiva". Embora seja uma edição singela, trata-se de uma verdadeira obra-prima para a época. A apresentação é de Ricardo Averini,
professor de História da Arte da Universidade de Perugia, na Itália.
No Livro, Mucci relata a história do mosaico, fala de descobertas arqueológicas
na Europa, cita mosaicistas nacionais, como Paulo Werneck, mas ele próprio deixa de falar de si mesmo, das obras importantes
que realizou em Minas Gerais. Dentre todas, a mais vistosa e de maior responsabilidade, foi sem dúvida a de revestimento interno
da Igreja do Carmo em Belo Horizonte, com grandes painéis da abside e do coro, assim como as estações da Via Crucis nas paredes
laterais. Trata-se de obra de fôlego, que consagra qualquer artista e, no seu caso, demonstra devoção religiosa, sem a qual
dificilmente levaria a cabo.
Painel de Alfredo Mucci em prédio do Rio |
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Obra em Copacabana, prédio da Xaviei da Silveira |
Também realizou decoração interna da Igreja de Santa Rita de Cássia,
em Extrema, no sul de Minas, fazendo uso de seus conhecimentos de outras técnicas e linguagens artísticas, como esculturas
e ícones. Decorou ainda a Igreja de Salto da Divisa, na fronteira norte de Minas com Bahia. Nunca estive lá, mas telefonei
para o padre da Paróquia, Frei Emílio, conversei sobre as obras ele me garantiu estarem em bom estado de conservação. Depois, consegui localizar por telefone um fotógrafo
na cidade (tem seis mil habitantes) e pedi que fizesse duas dúzias de fotos dos trabalhos, algumas das quais reproduzo aqui.
Para fazer os painéis (in loco) da Igreja de Salto da Divisa, Mucci contou com a ajuda de outro artista italiano de suas relações,
Piero Luigi, que logo depois retornou à Itália. Em 2004 Luigi veio ao Brasil para uma estada com seus parentes em
S. Paulo. Mandei fazer cópias das fotos e enviei a ele para matar a saudade dos dias que passou em Salto
da Divisa, uma cidadezinha perdida no alto Jequitinhonha, a três ou quatro horas de jardineira de Porto Seguro.
Dentre as obras profanas realizadas por Mucci , destaca-se o painel
“A evolução da moeda através dos tempos”, que realizou em Juiz de Fora para o pavimento térreo do antigo Banco
Mineiro da Produção, hoje Secretaria Estadual de Fazenda. Há outros trabalhos em Belo Horizonte, com visibilidade pública, sendo que um deles encontra-se em um prédio que fica
em frente à Assembléia Legislativa de Belo Horizonte. O painel, na verdade, são duas obras murais que exige fôlego do observador
para apreciar tanta arte e tanta beleza juntas. As peças foram restauradas em tempo mais ou menos recente e encontram-se em
excelente estado de conservação.
Obra-prima na entrada de prédio na Vieira Souto |
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Mucci deixou muitos painéis no Rio de Janeiro |
No Rio de Janeiro, também encontrei diversas obras primas realizadas
por Alfredo Mucci, duas delas em Copacabana e uma terceira num prédio da Avenida Vieira Souto, na orla de Ipanema. Os de Copacabana
encontram-se em prédios das ruas Xavier da Silveira e Souza Lima, ambas no Posto seis. Acredito que seria possível ir além
para aprofundar a pesquisa e busca de mais obras de Alfredo Mucci, inclusive
em São Paulo, onde o mosaico parietal era peça muito requisitada nos projetos dos primeiros prédios
de apartamentos ali pelo final dos anos 40 e durante a década de 50 e até 60.
Alfredo Mucci morreu há cerca de 20 anos. Ele faz parte daquela geração
de ítalo-brasileiros, a quem a arte do mosaico deve uma série de obras fundamentais desde meados século XX, espalhadas por
todo o país e infelizmente ainda muito mal conhecidas dos próprios brasileiros.
H. Gougon
Seguem abaixo: Fotos das obras principais de Antônio Alfredo Mucci em Minas Gerais:
1)Na Igreja do Carmo, em Belo Horizonte, os mosaicos do revestimento interior;
2) Painel Os Garimpeiros, em BH, em frente à Assembléia Legislativa;
3)Interior da Igreja de Salto da Divisa (norte de MG);
4)Painel A origem da Moeda, em Juiz de Fora, atual Secretaria de Fazenda, antiga sede do Banco Mineiro da
Produção.
1- FOTOS DO INTERIOR DA IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO:
Altar da Igreja do Carmo em Belo Horizonte |
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2) VEJA ABAIXO QUATRO FOTOS DO PAINEL "GARIMPEIROS", EM FACHADA DE PRÉDIO RESIDENCAL EM
FRENTE À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA (BH)::
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