Os ilustres pisos do Clube Naval do Rio
de Janeiro
O primeiro período
da história republicana brasileira foi marcado por duas insurgências da Marinha, ambas derivadas do sentimento cívico da oficialidade
naval brasileira. O primeiro levante da Armada ocorreu em 1891, sob comando do Almirante Custódio de Mello, inconformado com
o fechamento do Parlamento pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Diante da reação inesperada da Marinha, o “proclamador”
da República renunciou e passou o governo ao seu vice, o também alagoano Floriano Peixoto.
SEGUNDO PISO TODO EM MOSAICO |
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OBRA DE CÉSAR FORMENTI |
À inabilidade do primeiro juntou-se a truculência do segundo. Uma nova revolta da Armada ocorreu em 1893, desta vez porque
Floriano, uma vez empossado, recusava-se a convocar nova eleição presidencial, como previa a primeira Constituição republicana
de 1891.
Floriano governou com a força do Exército, mas não teve a chancela da Marinha, que novamente se sublevou, tendo à frente outra
vez o almirante Custódio de Mello, e também os almirantes Eduardo Wandenkolk e Saldanha da Gama. Este articulou-se com os
federalistas gaúchos e veio a morrer em campo de batalha, deixando pra trás uma história
de vida marcada por gestos patrióticos e decisivos na formação da pátria brasileira.
Pois coube a Saldanha da Gama, este
ilustre oficial da Marinha brasileira, a criação do Clube Naval do Rio de Janeiro em
12 de abril de 1884, quando ainda era Capitão de Fragata. Seu espírito indômito sempre esteve presente nas discussões políticas
que levaram o Clube a tomar posições dramáticas em diversos momento da vida republicana.
A sede definitiva do Clube foi inaugurada
em 1910, na então Avenida Central, que dois anos depois passaria a se chamar Avenida Rio Branco, em homenagem ao Barão do
Rio Branco, falecido em 1912.
É um dos primeiros prédios daquela via, juntamente com o Teatro Municipal, o antigo Supremo Tribunal Federal (hoje um vibrante
espaço cultural), o Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional.
Para a decoração do Clube Naval contribuíram muitos artistas nacionais e estrangeiros, dando ao prédio uma feição típica da
belle époque carioca. Para a feitura do piso do segundo pavimento, foi convocado
o grande artista italiano, morador de Guaratinguetá, César Formenti, já comentado em outras páginas aqui neste espaço. César
e seu filho Gastão Formenti cobriram boa parte do Rio de Janeiro com a arte do mosaico nas primeiras décadas do século XX.
Entre outros espaços, incluem-se o interior da Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca; do Colégio Santo Inácio, em Botafogo, do
Palácio Tiradentes, no Centro e do Jóquei Clube, na Gávea.
No Clube Naval, sua contribuição foi modesta, mas é importante assinalar que o emprego do mosaico artístico no Clube Naval
não se resume ao que se vê em seu interior, mas inclui ainda os desenhos do mosaico-calçada do lado de fora, no piso da Avenida
Rio Branco, todos eles com desenhos em pedra portuguesa que datam do período da construção da via. Foram realizados pelos
primeiros calceteiros portugueses que vieram para o Brasil por iniciativa do então prefeito Pereira Passos, que “rasgou”
o morro do Castelo para construir a Avenida. São obras que retratam enormes
âncoras, timão, desenhos marinhos e florais.
Sua permanência no calçamento por mais de um século depois de realizado evidencia o acerto na opção por este tipo de pavimento
nas calçadas, desde que haja permanente cuidado com a sua preservação. Neste sentido, o piso ao redor do Clube Naval do Rio
de Janeiro é modelar, um exemplo a ser seguido em outras calçadas que optaram pela beleza do mosaico português.
hgougon, 2010
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