O mosaico de Flávio Phebo pelas mãos de Heinz
Schueler
Se há uma grande lacuna referente a reconhecimento
póstero neste país, esta lacuna, sem qualquer sombra de dúvida, refere-se ao artista, cenarista e figurinista Flávio Phebo.
Nascido em Fortaleza em 1929 e falecido em 1986 na cidade de São Paulo, Flávio deixou uma obra gigantesca, composta por desenhos,
gravuras e, sobretudo, cenários e figurinos que marcaram época em apresentações teatrais e cinematográficas ao longo de mais
de três décadas.
Infelizmente, ainda falta no Brasil um estudo
consistente de sua vida e sua obra para elaboração de um livro que faça justiça à imensa obra que deixou, em gravuras, desenhos,
figurinos, cenários e... mosaico. Ele começou cedo, expondo pinturas aos 15 anos de idade, passando depois a desenvolver trabalhos
no Teatro Escola do Ceará, no Teatro infantil Pró-Arte e na Comédia Cearense.
Tornou-se um nome nacional a partir de 1952,
quando mudou-se para São Paulo, vindo de uma carreira meteórica nas grandes salas e salões do Nordeste. Na capital paulista
aprimorou seus conhecimentos em pintura como aluno de Aldo Bonadei, tendo se matriculado na primeira turma do Museu de Arte
de S. Paulo. Conquistou alguns prêmios no Salão de Arte Moderna e acumulou muitos outros a partir de sua realização de figurinos
e cenários das peças teatrais.
Fortaleza ainda guarda boa parte deste acervo
de peças de vestuário, desenhos originais, fotografias, roupas e muitos outros trabalhos que Flávio Phebo desenhou e produziu
no Ceará. Um pesquisador cearense, denominado Hiroldo Serra, tanto se impressionou com o volume de roupas para teatro produzidas
por Phebo que já anunciou a intenção de produzir um livro sobre o artista, o que é muito bem-vindo, porque parece representar
uma lacuna muito séria o fato de ninguém ainda haver tomado esta iniciativa.
Antes mesmo de se tornar figurinista, Flávio
Phebo destacou-se como artista plástico, reconhecido por seu desenho esmerado. Quando se mudou para São Paulo, já tinha uma
bagagem artística relevante, mas ainda assim, buscou aprimoramento com Aldo Bonadei, o que mostra o profissionalismo de sua
trajetória.
As áreas de artes plásticas sempre estiveram
conectadas com a da produção de cenários e figurinos. Nomes ilustres e referenciais como Clóvis Graciano , Lívio Abramo, Flávio Império, Hélio Oiticica, Bassano Vaccarini e muitos outros, sempre repartiram suas atividades
entre a produção de quadros e a produção de cenários e vestuários.
É no mínimo curioso anotar que todos esses artistas citados também produziram
obras para mosaico (devidamente apreciadas e reproduzidas neste site). Apenas Flávio Phebo passava a impressão de não haver
produzido nenhuma obra em mosaico, mas esta avaliação estava equivocada.
Na verdade, Flávio Phebo teve a alegria de realizar e vender pelo
menos uma peça em mosaico, executada pelo fabuloso artista teuto-brasileiro Heinz Schueler. Sobre este já foi feita uma abordagem
sobre a vastidão das obras plásticas que realizou no Brasil, sobretudo as encomendadas por Carybé, seu amigo baiano.
Ocorre que a filha de Heinz Schueler, Renate, descobriu a existência
de mais uma peça realizada por seu pai, reproduzindo um desenho assinado por Flávio Phebo.
Esta peça tem uma história e passo a relatá-la:
Trata-se da história de duas peças idênticas. Na década dos 70 Flávio
Phebo pediu a Heinz Schueler que reproduzisse na linguagem do mosaico uma pintura que fizera de um pescador. O mosaicista
teuto-brasileiro produziu a peça e a entregou a Flávio Phebo. Este, por sua vez, a repassou a um admirador alemão residente
em S. Paulo, já falecido. A viúva do adquirente, Sra. Stein, guarda ainda hoje a peça em sua propriedade na
Granja Julieta (SP).
Logo que descartou a peça, Heinz Schueler deparou-se com as lástimas
de sua esposa que já havia se acostumado com a obra de arte desenhada por Phebo dentro de casa e sentia um vazio sempre que
olhava para a parede. Ele então resolveu produzir uma segunda peça, com o mesmo desenho. Esta outra obra, igualmente assinada
por Phebo, ficou por muito tempo na Alemanha, na casa da viúva de Heinz Schueler. Mais recentemente, a peça passou ao
acervo da filha, Renate Schueler, que a mandou vir para sua casa na Flórida (EUA) . Foi ela quem teve a gentileza
de me enviar a foto e relatar o que se passou. Afinal, Heinz Schueler tinha muitos amigos artistas no Brasil,
entre os quais Carybé, para quem realizou grandes painéis em mosaico, já descritos aqui em outra página. Entre
muitos outros, estava também o cenarista Flávio Phebo, cuja obra em mosaico vem a público agora, através deste site.
HGougon, dez. 2010
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