Um
destino caprichoso em São Bento do Sapucaí
A
maior alegria de quem faz um site como este, descobrindo, analisando e observando detidamente a diversidade da obra em mosaico
é a emoção que provoca cada peça com sua explicação, sua razão de ser, sua provocação estética, enfim, todos os atributos
de um trabalho pensado, estudado e articulado, tessela por tessela.
Esta
emoção foi trazida ainda há pouco, em agosto de 2011, procedente de uma cidadezinha caprichosa do interior de S. Paulo, denominada
São Bento de Sapucaí. O pequeno município não seria muito diferente de outros que se vêem nas proximidades, exceto por uma
circunstância singular: além dos atrativos naturais e tradicionais das pequenas cidades do interior, como as serras, os rios,
as igrejas, e outros, S. Bento dispõe de um patrimônio artístico de grande magnitude representado pelo uso intensivo de obras
em mosaico nos mais diversos logradouros da cidade.
Para
quem mora nas capitais, fica um pouco longe, mas foi por lá que o artista do mosaico Ângelo Milani e sua jovem esposa Cláudia
Villar Marques de Sá, resolveram se estabelecer e tocar a vida, empreendendo uma obra gigantesca que já permitiu a cobertura
de diversos logradouros públicos, alguns dos quais por dentro e por fora com quebras de azulejos coloridos.
A
obra é colossal, mas, além da dimensão - que já diz muito, mas não é o principal critério para reconhecimento da obra de arte-,
os mosaicos de S. Bento do Sapucaí são refinadíssimos sob o ponto de vista estético e artesanal.
O
que impressiona ainda mais é que essa surpresa ocorre num momento em que já se podia imaginar que este site teria atingido
a cobertura de todas as obras essenciais na linguagem do mosaico dentro do território brasileiro. O infinito sempre parece
próximo. Enfim, infinito mesmo é a arte, especialmente a arte do mosaico que, ao longo de cinco mil anos de existência, já
passou por diversos períodos de apogeu e de ocaso. E continua se recriando...
Para
o autor deste site há mais um componente importante na “descoberta” desse tesouro em São Bento
do Sapucaí. É que a mulher do mosaicista Ângelo Milani, Cláudia Villar Marques de Sá vem a ser filha do importantíssimo artista
plástico, professor universitário e também mosaicista Douglas Marques de Sá. Aqui mesmo neste site, há uma página integralmente
dedicada a relatar um painel em mosaico que Douglas concebeu e executou ao final dos anos 50 no Rio de Janeiro destinado ao
Aeroporto de Belém do Pará. A obra foi inaugurada, mas quando veio o golpe militar de 1964, um oficial da Aeronáutica disse
que era “obra de comunista” e pôs o mural abaixo, com picaretas. Enfim, uma história triste que ficou pra trás,
assim como o regime militar e todas suas desgraças.
O
que se vê hoje é um novo Brasil cheio de boas surpresas como a deste casal abençoado
que dissemina sua arte nos espaços mais inesperados deste país. Ângelo Milani e Cláudia Villar Marques de Sá são artistas
que dignificam e dão uma nova cara a este país que surge da retomada democrática, cheio de vida e de realizações. E de mosaicos...
Este último trabalho, apresentado logo abaixo, é uma gigantesca
intervenção no Espaço Cultural Miguel Reale. Uma intervenção clara e elegante. Definitiva. São Bento do Sapucaí é hoje um
modelo de arte contemporânea, um espaço avançado de imaginação e beleza, graças a um trabalho sério, criativo, objetivo e
admirável sob qualquer aspecto, cidade para ser visitada não só pelos turistas, mas especialmente por aqueles que gostam e
cultivam as artes plásticas em suas vertentes mais recentes, ousadas, criativas e surpreendentes.
H. Gougon, 2011
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