Foto de Roberto Stuckert, especial para o site |
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Painel tem grande visibilidade no saguão de entrada do Aeroporto de Congonhas |
Tal como ocorre nos espaços das estações de metrô, alguns aeroportos vêm abrigando obras musivas de qualidade em suas
paredes, oferecendo aos usuários um visual mais sugestivo para contemplação e deleite. A razão é a mesma: os mosaicos em obras
murais embelezam a área e não estabelecem barreiras ao fluxo de passageiros, além de prescindir de maiores esforços para manutenção
e limpeza. No Brasil, os exemplos se multiplicam e aqui mesmo neste site são apresentados alguns casos de destaque, como o
novo espaço do Aeroporto de Campina Grande (PB), inaugurado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva em outubro de 2003,
com uma obra projetada pelo teatrólogo Ariano Suassuna e executada pelo seu genro Guilherme da Fonte; e também o novíssimo
Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, com um mural em pastilhas concebido pelo artista Glauco Rodrigues, pouco antes
de seu falecimento, ocorrido em meados de 2004.
REPARE BEM NA FIGURA OS NOMES DOS AUTORES |
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ERNANI DO VAL PENTEADO E RAYMOND A. JEHLEN |
A estação de passageiros que foi pioneira no emprego de mosaico em sua decoração foi a de Congonhas,
em São Paulo. Para revestir o vasto espaço interior da principal área de acesso nos anos 40,
os dois arquitetos responsáveis pela obra – Ernani do Val Penteado e Raymond A. Jehlen – decidiram eles mesmos
fazer o cartão para realização da obra em mosaico. A
estação foi inaugurada a 26 de janeiro de 1954 pelo presidente da República, Getúlio Vargas, que ali encontrou, além do painel
em pastilhas, uma pintura mural assinada por Clóvis Graciano e Di Cavalcanti, realizada no ano anterior para o Pavilhão de
Autoridades. Esse painel foi restaurado há poucos anos e também contribui para enobrecer o espaço, que conta com mais uma
dezena de obras artísticas, entre as quais uma escultura de Brecheret.
Ainda que o painel em mosaico seja uma obra pra lá de conhecida dos paulistanos, nenhum deles
fica indiferente ao passar por ela. Trata-se de um mural intrigante que mistura elementos geométricos com outros signos, como
máscara de carnaval, formando uma composição cromática vaga e delicada, que tem a capacidade de atenuar a característica monumental
do altíssimo pé direito do saguão. O painel mantém um ritmo próprio e homogêneo, acompanhando a parede que sobe do subsolo
à estação de passageiros.
É significativo que o painel continue íntegro e bem conservado, constituindo-se uma obra de época, dentro de uma concepção
ao mesmo tempo modernista e com certo viés futurista que contribui para manter o charme característico do Aeroporto de Congonhas
como local referencial e de convergência da vida de São Paulo. As transformações efetuadas no Terminal de Passageiros foram
pequenas ao longo dos últimos 50 anos, mas nos últimos anos, toda a área aeroportuária passou por uma remodelação de peso,
em grande parte conduzida pelo arquiteto paranaense Sérgio Parada, residente em Brasília e muito festejado pelas reformas
que já implementou em outras capitais importantes, inclusive em Brasília, onde reside.
No caso brasiliense, as reformas de Parada são uma unanimidade na cidade, onde ninguém poupa
aplauso à remodelação que implementou nos últimos anos, com o mínimo de desconforto para os usuários no período de obras.
Deu uma cara nova, moderna, eficiente e de bom gosto ao Aeroporto Internacional de Brasília.
De qualquer forma, é importante deixar claro que as obras iniciaram-se com alguns enfrentamentos com a comunidade,
que temia perder o aeroporto. O Movimento Defenda São Paulo, uma das ONGs mais
respeitáveis do estado, conseguiu liminar paralisando as obras antes da virada do milênio, até que, em 2002, estabeleceu um
acordo com a Infraero. Mas continua vigilante na defesa do uso aeroportuário de Congonhas e de seu significado como patrimônio
cultural da cidade. Em dezembro de 2004, a revista editada pelo Instituto Camargo
Correa, empresa encarregada das obras no Aeroporto, garantia, na edição de número 27, que o arquiteto Sérgio Parada iria atender
às reivindicações do Movimento. “Acolhendo as sugestões recebidas – afirmava a publicação –, o projeto de
Parada buscou uma harmonia com os prédios do aeroporto, o terminal de passageiros,
iniciado em 1942, e a torre de controle, de 1951, que são importantes referências da arquitetura da cidade. Também se evitou
o corte de árvores no canteiro de obras.”.
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