Todas as fotos abaixo pertencem ao blog do artista Fernando Mendonça.
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Tudo nele parece um enigma a ser desvendado. O nome do enigma é Fernando Mendonça,
um maranhense da cidade de Bacuritiba, no interior do Maranhão, um vilarejo com pouco mais que cinco mil habitantes.
Pois bem, este maranhense vem realizando nos últimos anos painéis em mosaicos
surpreendentes e inquietantes. Suas peças demonstram segurança, habilidade e uma criatividade acentuada para transcrever em
quebras de azulejo as imagens que parecem vir de sua infância, as mulheres com potes de água na cabeça, o São Jorge Guerreiro,
uma mulher que toca tambor e assim por diante.
Fernando nasceu em berço de artistas. Seu pai era saxofonista e a mãe artesã
na pequena Bacuritiba. Aos14 anos, a vida no vilarejo já não cabia nas exigências de sua alma inquieta. Foi morar em
São Luis do Maranhão, onde logo ingressou num grupo artístico da cidade, o Laborarte, ali pela década de
70. Em 1980, foi mais longe: partiu para o Rio de Janeiro, onde tornou-se amigo e discípulo de Rubens Guerchman, o artista
vanguardista que muitas vezes usou a arte para questionar a opressão e a desigualdade social no período da ditadura militar.
Ainda hoje, Fernando mantém seu
atelilê no Rio de Janeiro, mas vez ou outra retorna ao Maranhão, para rever um pouco as raízes, outras para apresentar, com
orgulho, o trabalho que realiza em diversas plataformas, entre as quais o mosaico. Foi o que fez em 2008, quando apresentou
suas peças no Palácio dos Leões, sede do governo maranhense.
Na ocasião, foi entrevistado e, entre suas muitas colocações, assim se expressou
sobre o mosaico e sua opção por essa vertente artística:
“O mosaico, atualmente, é relegado à função meramente funcional, ligado
à arquitetura, usado em fachadas de prédios, ou então possui função decorativa, sendo aproveitado pelo artesanato, mas no
universo da arte contemporânea, poucos artistas utilizam o mosaico como a linguagem principal”.
A opção de Fernando pelo mosaico é ainda mais surpreendente porque o Maranhão
é, antes de tudo, o berço da azulejaria, que desponta majestosa nas fachadas dos casarões antigos de São Luis. Sua expressão
é tão forte que fica até difícil situar o mosaico nesse contexto. São artes diferentes, mas seguem o mesmo sentido na razão
de ser, como artes complementares à arquitetura.
Na verdade, a arte de Fernando Mendonça vai muito além do mosaico. Mesmo quando
os realiza , seu trabalho está ainda mais à frente, não propriamente pela técnica, mas pela abordagem dos temas e pela inovação
estética de seus desenhos, que o colocam num patamar de vanguarda que mistura surpresa, talento e movimento. O mosaico pode
não ser sua principal vertente artística, mas em suas mãos a arte ganha uma nova dimensão que tanto vem do berço, da raiz
fincada em Bacurituba, quanto de seu benéfico convívio carioca com o talentoso
Guerchman.
hgougon, set.2009
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