Erigida a partir de 352 d.C. por Constantino, a Basílica de São Pedro em Roma só ganharia a feição
que mantém ainda hoje a partir do ano de 1506, quando a Igreja resolveu retomar de maneira radical a reconstrução do prédio,
já em vias de arruinar-se. O papa Julio II colocou a primeira pedra da nova obra, que só veio a ser consagrada em 1626.
Para garantir os trabalhos exigidos por tal monumento através dos séculos, a Igreja fundou na ocasião
a Reverenda Fábrica de São Pedro, da qual se descolou em seguida o Laboratório e logo depois
o “Studio Del Mosaico Vaticano”, ainda hoje mantido com o mesmo nome. Tornou-se, a partir de então, a principal
escola formadora de mosaicistas da Europa, dando especialização aos artistas que iriam construir e restaurar todas as obras
em mosaico para a Basílica de S. Pedro e para os templos
católicos mais importantes pelo mundo afora.
Nele foram criados e produzidos os painéis em mosaico que o Papa João Paulo II
trouxe ao Brasil em 1980, durante sua primeira viagem ao nosso país. O Brasil
ainda vivia o regime militar e a imprensa preocupou-se mais em mostrar o lado político da visita, sem se dar conta do gesto
de apreço do Papa que, na ocasião, doou as obras à Basílica de Aparecida, em São Paulo, um dos maiores centros de peregrinação
católica, que abriga a imagem da padroeira do país.
Os painéis são trabalhos refinados, de acabamento apurado, que guardam a boa e velha técnica centenária
do mosaico do Studio Del Mosaico do Vaticano, cuja chancela garante a qualidade da arte. Foram confeccionados em mármores,
esmaltes vítreos e outras pedras duras.
Quatro dos painéis representam os evangelistas S. Mateus, S. Lucas, S. Marcos e S. João e um quinto
painel traz a figura do Cordeiro de Deus. Os dirigentes da Basílica colocaram os cinco painéis na parede do Santíssimo, área
reservada à guarda das hóstias e dos instrumentos de culto. Apesar de ser área preservada do imenso movimento diário dentro
da Basílica, os painéis tiveram que passar por uma reforma há coisa de dois anos, mais por necessidade de limpeza que propriamente
de restauro.
A presença de mosaicos nas igrejas católicas brasileiras não é coisa nova nem rara. Ao contrário,
eles podem ser apreciados de norte a sul do país. Entre outros templos, os mosaicos de tradição bizantina decoram igrejas
como a Basílica de Nazaré, em Belém do Pará, a Catedral da Sé, em São Paulo ou
ainda a Catedral de Porto Alegre – todas adquirentes de peças em estúdios e ateliês de Veneza, Florença e Ravenna. Mas os mosaicos doados pelo Papa João Paulo II guardam um significado ainda maior por ser um presente do Sumo Pontífice e por traduzir
o que há de melhor da expressão de qualidade técnica e estética do Studio Del Mosaico do Vaticano, o principal centro criador,
pesquisador e realizador de obras musivas religiosas ao longo dos últimos séculos.
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