Antonello , cores e mosaico na paisagem baiana |
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Na Av. do Contorno, belíssima intervenção na área pública |
turistas em mosaico, uma metalinguagem |
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Obra rica também na Av. do Contorno, em Salvador |
Itália, Bahia, Mosaico: tudo a ver
Como
todo mundo sabe, o mosaico é muitas vezes definido como uma arte essencialmente romana. Não foi em Roma que surgiu o primeiro
mosaico, mas quando a técnica das tesselas em mármore, depois de maturada pelos gregos, alcançou os romanos, a arte logo ganhou
nova dimensão pictórica e se espalhou por todos os cantos do Império, especialmente ao longo da bacia mediterrânea (incluindo
o norte da África). Após o século IV, a arte dos mosaicos tornou-se o principal veículo para evangelização dos povos da Europa
Oriental, através da escola de Bizâncio, então Constantinopla, sede do Império Romano do Oriente.
Herdeiros
e guardiões da cultura romana, os habitantes da Península Itálica ainda guardam na alma o impulso artístico primordial do
fazer musivo. A técnica de sua realização é ensinada desde cedo nos colégios,
o gosto pelos mosaicos é sempre crescente e viabilizado pelos muitos ateliês profissionais, além do que a Itália abriga diversos
centros de excelência e oficinas de tradição centenária em cidades como Ravena, Firenze, Veneza, Spilimbergo e, claro, Roma.
Não
deve, pois, surpreender a ninguém que no Brasil muitos imigrantes italianos tenham trazido na alma e na formação escolar farto
conhecimento e impulso para o emprego do mosaico. O Brasil deve a um desses imigrantes italianos estabelecido em
Minas Gerais a iniciativa de escrever o primeiro livro editado no país exclusivamente dedicado aos mosaicos.
Em 1962, Antônio Alfredo Mucci, autor de dezenas de obras espalhadas em
Belo Horizonte, Juiz de Fora, Extrema, Salto da Divisa e Rio de Janeiro, lançou, pela Editora Ao Livro Técnico,
o “Compêndio Histórico-técnico da Arte Musiva”, quase uma bíblia para qualquer artista brasileiro que deseje conhecer
e entender a linguagem do mosaico. Evidentemente que houve muitos outros artistas italianos (ou filhos destes) que se radicaram
no Brasil e produziram mosaicos, como Gianfranco Cerri, Franco Giglio, Poty Lazarotto, Humberto Cozzo, Bassano Vacarinni,
sem esquecer do mais ilustre e conhecido, CandidoPortinari.
pai e filho formatados nas quebras de azulejos |
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Antonello L'Abbate soma-se aos valores artísticos da Bahia |
O
que surpreende é que justamente na Bahia, um território ocupado por uma grande, grandíssima presença artística local, abrigando
uma cultura extremamente forte e multifacetada tenha vindo se estabelecer um italiano de vultuoso talento artístico, que se
somou a nomes já consagrados da cultura baiana, como Bel Borba, Carybé, Mário Cravo, Juarez Paraíso, e tantos outros.
Pois
o artista Antonello L’Abbate, nascido em Roma, em 1943, veio para o Brasil aos dez anos de idade e viveu em diversas
cidades brasileiras até 1969, quando retornou à sua pátria para freqüentar, em Milão, a Accademia di Belle Arti di Brera.
Dali passou a Nova Iorque onde ingressou no Art Students League e êi-lo de volta em 1972 para se radicar de vez na... Bahia!!!
Conheci
um pouco de sua obra durante uma mostra de 1997 no Centro Cultural da Caixa Econômica de S. Paulo. O que eu não conhecia,
mas acabo de descobrir, é que, como todo bom artista italiano, Antonello também produz mosaicos, o que seria mais do que previsível.
Assim
como Bel Borba (outro gigante das artes baianas), Antonello vem ocupando áreas públicas de Salvador para exibir suas intervenções urbanas em cacos de azulejos. A meu
ver, o trabalho mais exuberante, encontra-se na Avenida do Contorno: um mural super-colorido (que combina bem com a Bahia),
um verdadeiro cartão de apresentação do artista no campo musivo, com 15 metros de largura por cinco de altura. Mas
há outro trabalho que conheci através do You Tube, que retrata a figura de Jorge Amado na parede externa da faculdade que
leva o nome do escritor. Tem 54 metros de comprimento,
por dois e meio de altura. Na obra, Antonello aproveitou para homenagear outros companheiros artistas da Bahia, como Jenner
Augusto, Carlos Bastos, Floriano Teixeira, Carybé, Mário Cravo e Calasans Neto, todos eles realizadores de ilustrações para
os livros do escritor baiano.
Enfim,
Antonello L’Abbate é um artista que honra e dignifica a produção visual e plástica
baianas, contribuindo para que as obras de artes não fiquem restritas a museus e colecionadores,
mas que ganhem as praças públicas, as paredes da cidade, as encostas, os túneis, as avenidas, as praças e as ruas, ou seja,
indo até onde o povo está.
Lamentavelmente,
não possuo fotos das obras em mosaico de Antonello L’Abbate, razão pela qual reproduzo fotos extraídas de outros sites,
inclusive do próprio artista. Espero poder fotografar suas peças tão logo arranje oportunidade para visitar a Bahia, reencontrar
amigos e abraçar essa gente boa e venturosa que convive com esses artistas fabulosos e criativos.
Em
Brasília, 1 de março de 2008
(Se
alguém quiser colaborar e me enviar fotos das obras em mosaico de Antonello L’Abbate, ficarei muitíssimo agradecido
por poder reproduzí-las aqui neste espaço
Envie
para Gougon@apis.com.br ou para Hgougon@gmail.com
CLIQUE E VEJA FILME SOBRE O PAINEL DE JORGE AMADO |
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L'Abbate redesenha em cores a porta da Faculdade |
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