Partiu do historiador carioca Milton Teixeira a identificação dos autores de dois pisos em mosaicos de pastilhas que
são, sem qualquer sombra de dúvida, os mais significativos e os mais formosos do período da “belle époque” carioca:
os pisos do Jóquei Clube Brasileiro (também conhecido como Hipódromo da Gávea) e do Palácio Tiradentes no centro do Rio, junto
à praça XV.
As duas construções tiveram o privilégio de ter seus pisos confeccionados artesanalmente
por dois grandes nomes do mosaico das primeiras décadas do século XX: César Formenti e seu filho, Gastão Formenti. Aqui mesmo neste site, há uma página tratando de outras obras significativas que ambos realizaram para as Igrejas dos Capuchinhos,
no bairro da Tijuca, e do Colégio Santo Inácio, em Botafogo, bairros do Rio de Janeiro. Além de mosaicos graciosos nas paredes
e nos nichos de devoção religiosa, os dois artistas também realizaram vitrais que engrandecem o conjunto das obras por eles
assinadas.
Pois além desses dois conjuntos que já bastariam para consagrá-los perante a história,
colocando-os em categoria elevada das artes brasileiras, eis que agora o historiador Milton Teixeira traz à luz novos documentos
que atribuem a ambos a responsabilidade pela confecção e implantação dos vastos pisos de dois prédios magníficos do Rio de
Janeiro, o Palácio Tiradentes e o Jóquei Clube Brasileiro. Não por mera coincidência, as duas obras resultam da prancheta
de um importante arquiteto do início do século XX, Arquimedes Memória a quem coube a contratação dos Formenti para a execução
dos pisos. A escolha não poderia ter sido mais feliz. As duas construções foram erguidas simultaneamente e ambas inauguradas
em 1926.
Há menos de dez anos, um dos filhos de Arquimedes, Péricles Memória, redigiu um livro,
abordando a importância das obras realizadas por seu pai, mas não há um só parágrafo dedicado aos dois artistas que emprestaram
aos dois prédios a nobreza das curvas e das cores vivas que fizeram do chão uma obra-de-arte singular, capaz de emocionar
as pessoas sensíveis que visitam as duas Casas. É uma pena que não tenha havido esse registro no livro sobre Arquimedes Memória.
De uma maneira geral, são poucos os artistas que conseguem deixar seu nome para a posteridade. No caso de artistas do mosaico,
a situação ainda é mais injusta, passando a impressão de que não há valor artístico na execução de um mosaico... para pavimentar
o chão! Até por isso, é importantíssimo o resgate que o historiador Milton Teixeira traz ao conhecimento público.
Teixeira vem ganhando visibilidade desde que optou por “popularizar” a difusão
de seus conhecimentos de História, que são vastíssimos. Ele vem mostrando os fatos do passado de forma atraente, apontando
sua pertinência na vida atual, como por exemplo, essa retomada da arte do mosaico, que vem ganhando atualidade, após décadas
de ocaso. Sua paixão é o Rio de Janeiro e, em pouco tempo, tornou-se referência sempre que se busca informações sobre a história
da cidade em todas suas facetas.
A verdade é que os Formenti têm uma história para contar, que não se esgota na arte do
mosaico. Gastão Formenti, o filho, foi um dos mais importantes intérpretes de música popular brasileira nas décadas de 20
e de 30. Poderia ter ficado só nisso, que lhe rendeu muito dinheiro, mas sempre considerou ser antes um artista das artes
visuais do que um cantor. Já César Formenti, o pai, era pintor e vitralista notável, tendo realizado uma enormidade de vitrais
em Igrejas católicas do Rio de Janeiro.
As obras dos dois, pai e filho, se confundem em muitos casos, sendo algumas vezes difícil
fazer distinção de quem fez isto ou fez aquilo. Na aula-conferência de Milton Teixeira no auditório do Forte de Copacabana
do Posto 6, a projeção de fotos de vitrais executados por ambos incluiu logradouros
famosos, como o Clube Naval, o Instituto Osvaldo Cruz, o Centro Cultural da Justiça, o Altar da Igreja da Candelária, o Palácio das Princesas, a Igreja Santo Antônio dos Pobres, além de um riquíssimo
mosaico no túmulo do Visconde de Moraes.
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