Dekko Matos, o artista que coloca
o Amapá no mapa das artes brasileiras
O Amapá não é para principiantes. Sua história
é antiga e muito marcada por conflitos armados na disputa para manter a posse do território nas mãos da Coroa Portuguesa.
Em 1783, o Tratado de Utrecht fixou o Rio Oiapoque como divisor entre o território brasileiro e a Guiana Francesa, mas os
franceses nunca o respeitaram.
Por muito tempo, o território esteve vinculado
à Capitania do Maranhão e Grão Pará. Nem por isso deixou de sofrer a invasão de aventureiros estrangeiros, especialmente franceses,
sempre em busca do ouro. A independência do Brasil em 1822 também não modificou a situação, que perdurou pelo período republicano
adentro, formando na região uma espécie de “Contestado”.
Essa situação deu lugar a tentativas quixotescas
e bizarras pelo controle do território por parte dos aventureiros franceses que
chegaram a proclamar a fundação de uma “República do Cunani” na área de constestação. Somente em 1900, através
da arbitragem do governo suíço (escolhido pelos dois países litigantes) o Brasil
teve ganho de causa na questão do Amapá e pôde, enfim, considerá-lo como parte integrante e inquestionável do território nacional.
Em 1943, o território passou à administração
do governo federal, com o nome de Amapá, mas somente em 1988, com a votação da nova Constituição, o território foi elevado
à condição de Estado da Federação.
Não há mais espaço político nos dias de hoje
para aventuras como as que se sucederam até meados do século XX. Os franceses não são mais uma ameaça para os amapaenses.
Ao contrário, na atualidade, o que se busca de parte à parte são vínculos de amizade, respeito mútuo e cooperação, especialmente
na área cultural. Neste sentido, estabeleceu-se em Macapá um Centro Cultural Franco-Amapaense com o objetivo de incrementar
as relações entre as duas regiões (o Estado do Amapá e a Guiana Francesa).
DEKKO MATOS: ARTISTA MÚLTIPLO |
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O interior do Centro Cultural abriga um painel
em mosaico de um dos principais artistas plásticos do Amapá, Dekko Matos, que, através da obra em pastilhas, confere ao espaço
uma beleza extravagante, correspondente à expressão estética muito própria da região. Com a sensibilidade característica dos
artistas talentosos, Dekko percebeu que uma das expressões mais apropriadas e pertinentes da área cultural para promover a
aproximação entre amapaenses e franceses é a expressão musical, conforme se manifesta nos batuques e danças dos dois lados
da divisa.
E foi nesse tom maior que Dekko concebeu o
mural de pastilhas, que quebra a formalidade do espaço Franco-Amapaense, permitindo o congraçamento entre os nacionais dos
dois lados da divisa.
SOL DO AMAPÁ DESBOTOU AS CORES |
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PAINEL EXIGE RECUPERAÇÃO |
É também da autoria de Dekko Matos o painel
a óleo sobre o monumento próximo à Biblioteca Elcy Lacerda, realizado junto com o artista francês Robert Laurent, celebrando
o novo clima de cooperação entre brasileiros do Amapá e franceses da Guiana Francesa. Infelizmente, o sol abrasador de Macapá
acabou “derretendo” a pintura dos dois artistas. Diante do problema, Dekko vem sugerindo às autoridades amapaenses
a transformação dessas duas pinturas em dois grandes mosaicos de pastilhas, o que proporcionaria melhores condições
para perpetuar o projeto pictórico de congraçamento entre guianenses e amapaenses.
EIS O PAINEL POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO |
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ANTES QUE O SOL DERRETESSE AS CORES... |
Fernando Canto, que edita o melhor blog cultural
de Macapá, defende a proposta de Dekko, mas até agora, não houve maior ressonância naquela área que deveria ser o centro promotor
dessa convergência cultural, o Centro Cultural Franco-amapaense.
Daqui de Brasília (onde reside o autor deste
site), despachei dezenas (isso mesmo, dezenas) de ligações telefônicas ao longo de mais de um mês para a diretora do centro,
Dalvaci Martins, implorando por fotos dos trabalhos do artista Dekko. Só perdi meu tempo, minha paciência e o dinheiro
com ligações caríssimas para o prefixo 096. Vim a conseguir as fotos quando me dei conta que de nada adiantaria recorrer a
quem não tem compromisso com a representação e
a imagem do órgão público que dirige.
Procurei então pelos jornais de Macapá e consegui
a gentileza de um jornalista respeitável que compreendeu minha aflição e em menos de duas horas, me contemplou com as fotos
do mural de Dekko, exibidas aqui para conhecimento de todos que apreciam obras em pastilhas e sabem reconhecer sua importância
no contexto das manifestações das artes visuais.
Gougon. Em Brasília, out. 2010
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