Samu colocou o Espírito Santo no mapa brasileiro do mosaico
obra de Raphael Samu |
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EdifícioChurchill, SP |
Discretamente e indiferente
aos modismos, o Espírito Santo tornou-se um dos principais estados em que se pratica e se aprofunda hoje a arte musiva. Em
2002 abrigou o primeiro e único Congresso Internacional dos Artistas do Mosaico Contemporâneo, com a presença em Vitória de
mosaicistas que representavam o que havia de mais relevante na vanguarda da Europa,
dos EUA e da Oceania.
A Universidade Federal
do Espírito Santo é possivelmente a única dentre as congêneres estatais que concede ao estudo e à pesquisa de mosaico um status
de disciplina de nível superior, formando artistas com especialização na matéria.
Tudo isso tem nome:
Chama-se Raphael Samu, nascido em São Paulo em 1929, filho da romena Sofia com o húngaro Adolfo Samu. Depois de uma trajetória
meteórica nas artes plásticas em São Paulo, que incluiu curso de gravura em metal
com Mário Gruber, História da Arte com Wolfgang Pfeiffer, e xilogravura com Lívio Abramo,
passou a trabalhar na Divisão de Mosaico da empresa Vidrotil, produtora de pastilhas vítreas, entre 1959 e 1961. Nela
aprofundou seus conhecimentos na arte musiva e veio a tornar-se um exímio mosaicista, sem nunca descuidar de outras técnicas
visuais como o desenho, a pintura e a escultura. Em 1961 Samu aceitou o convite para ser professor da Escola de Artes Plásticas
do Espírito Santo. Estabeleceu-se no Estado de forma definitiva, transportando para ali a expressão de seu talento artístico
e tornando-se em pouco tempo um Mestre respeitado e influente na formação dos
artistas capixabas.
Em 1967 participou,
pela primeira vez, da Bienal de São Paulo (na IX edição), com três desenhos. E a partir de então explodiu na participação de mostras e exposições em salões,
galerias e espaços culturais de todo o país. Em 1979, viajou para os Estados
Unidos e executou ali três mosaicos para as instituições universitárias da West Virginia.
Junto com a professora
Freda Cavalcanti Jardim, Samu tornou-se uma das principais referências nacionais em mosaico contemporâneo. Ambos adotaram
o Espírito Santo e nele cresceram como artistas do mosaico, sempre apostando
no futuro da arte. Na entrada da UFES Samu realizou um mural importantíssimo dedicado à chegada do homem na Lua e às suas conseqüências para o destino da Humanidade.
Tive o grande prazer de conhecê-lo
durante o VIII Congresso Internacional da AIMC (Associação Internacional do Mosaico Contemporâneo) realizada em setembro de
2002 em Vitória. Entusiasmado com tanta gente jovem interessada em mosaico, levou o grupo para conhecer seu ateliê e travar
contato com uma maquininha simples que concebeu para cortar tesselas de vidro ou de cerâmica, através da adaptação das alavancas
de cobrir botões. Ele simplesmente retirou o mecanismo de cobrir botões e substituiu-o por duas pontas de corte para torno,
de forma que a incidência de uma sobre a outra permite corte de tesselas do tamanho desejado.
Com a maquineta, Samu
corta suas próprias tesselas, em pastilhas de vidro, de azulejos, de esmaltes italianos e de outros materiais próprios para
realização de obras em mosaico, que passaram ao crítico Carlos Nejar a impressão de que ele trabalha sobre ruínas: “Ora
são restos de catedral na floresta, ora vestígios da Roma Antiga, ora o Grande Canyon, ora os espaços infinitos como a corrente estelar do firmamento, ora uma cidade destruida nas metamorfoses do terreno”.
Seus painéis não se
encontram apenas no Espírito Santo, mas espalham-se por muitos outros Estados brasileiros, especialmente em São Paulo, onde
participou ativamente do movimento muralista dos anos 50, criando e realizando obras musivas para revestimento de muitos prédios
na capital.
Veja em outra página aqui neste site uma denúncia séria sobre o estado de decomposição do
painel de Raphael Samu e o jogo de empurra dentro da UFES (da qual a obra é um símbolo) que não toma providências para o devido
reparo.
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