O RESGATE: PAINEL EM MOSAICO DE MÁRIO CARNEIRO NA VIA PÚBLICA EM COPACABANA!
O arquiteto, fotógrafo, pintor e diretor de
cinema Mário Carneiro é mais reconhecido hoje pelos cinéfilos do que propriamente pelo público de cinema em geral. Ele não ganhou a projeção pública que a atividade cinematográfica
concedeu a Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e tantos outros cineastas que marcaram o Brasil a partir dos anos 50.
Mas ele foi, sem sombra de dúvida, um dos principais artífices e pensadores da cinematografia de toda
aquela época.
Desde muito cedo ele apaixonou-se pela fotografia
de Edgar Brasil, diretor do mítico filme de Mário Peixoto, “Limite”. Dessa admiração decorreu seu envolvimento com a fotografia de
cinema que o tornou rapidamente um dos maiores, senão o maior diretor de fotografia cinematográfica do período chamado Cinema Novo,
que se inicia ao final dos anos 50 e avança até o final da ditadura militar.
Além da fotografia para cinema e montagem, Carneiro sempre se dedicou às artes plásticas. Chegou a se aprimorar na pintura com
o gaúcho
Iberê Camargo. E também realizou gravuras, com as quais se apresentou em mais de uma Bienal de S. Paulo, além de expor em circuitos
estrangeiros, inclusive
Paris, onde nasceu.
Mário Carneiro era filho
do Embaixador Paulo Carneiro, o que não impediu que fosse preso nos idos de 1967/68 durante aqueles dias tenebrosos da ditadura
militar. Foi encarcerado na mesma cela em que já se encontrava Gláuber Rocha, a quem ensinou pintura e desenho no cárcere.
Em 2007, o CCBB
promoveu uma mostra de filmes dirigidos ou fotografados por ele. Dali a alguns dias, Mário completaria 77 anos de idade. As homenagens se multiplicaram, mas ele faleceu poucas semanas
depois. A recuperação da totalidade de sua obra cinematográfica ainda exige uma pesquisa mais aprofundada. O que
se sabe é que de suas lentes sairam mais de 40 títulos, entre as quais Couro de Gato;
Garrincha ; Arraial do Cabo;: Todas as Mulheres do Mundo; Di; Enigma de Um Dia; A Casa Assssinada; O Engano; e muitos outros.
No caso do painel em Copacabana, resta saber se o arquiteto, fotógrafo,
cineasta e artista plástico deixou outras criações em mosaico ainda perdidas em algum espaço particular ou público. É
interessante notar que Mário Carneiro fez questão de assinar o painel com todas as letras, o que mostra a importância que
concedeu à obra. Afinal, na época de sua realização, nomes como Portinari, Di Cavalcanti, Paulo Werneck, Lívio Abramo e dezenas
de outros modernistas dedicavam muito espaço à criação de peças em pastilhas. O painel de Mário Carneiro deu trabalho
e ele firmou a autoria. Com muita visibilidade e orgulho.
hgougon, final de março, 2011
PS: Se você está aí no Rio de Janeiro e gostaria de conhecer de perto o painel de Mário Carneiro,
basta chegar até o final da rua Bolívar, onde ela cruza com Pompeu Loureiro. O mosaico foi aplicado na parede externa do edifício
da esquina. Está bem conservado. Provavelmente o síndico do prédio mandou plantar embaixo da obra alguns cactos,
seja para afastar cachorros ou intrusos. Ofende a obra de arte, é claro, e compromete sua visibilidade, mas talvez até
por causa disso esteja efetivamente preservada do ponto de vista, digamos, estrutural. (H.Gougon)
|