Paulo Freire, um monumento
em mosaico
Ministério da Educação inaugura monumento que homenageia
o educador Paulo Freire em reconhecimento à atualidade de suas idéias para o desenvolvimento da educação brasileira e da formação
da cidadania.
Em cerimônia
realizada na manhã do dia 12 de dezembro de 2003, o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, inaugurou, no jardim defronte
ao MEC, um monumento, realizado em mosaicos de mármore e granito, homenageando a figura doeducador Paulo Freire, redimindo
uma dívida nacional para com um dos maiores pensadores deste país.
Nascido em 1921,
em Pernambuco, Freire interessou-se desde muito cedo pelos temas da educação e pelo combate ao analfabetismo, analisando-os
de forma meticulosa e revolucionária em seu livro Pedagogia do Oprimido, um estudo clássico das dificuldades das populações
deserdadas para alcançar direitos de cidadania e tomar as rédeas de seu destino.
Falecido aos
75 anos de idade, Freire deixou uma obra imensa, reverenciada e admirada em todo o mundo, não apenas entre os países menos
desenvolvidos como também nos Estados Unidos, onde seus livros foram traduzidos e tiveram sua importância reconhecida pelos
educadores norte-americanos mais destacados.
Embora sua trajetória
já o consagrasse no Brasil dos anos 50 pelo caráter revolucionário que imprimia na educação nacional, Freire foi obrigado
a deixar o país após o golpe militar de 64. No exterior, sua reputação cresceu ao espalhar as sementes de um novo pensamento
educacional e político entre os povos latino-americanos, africanos e europeus.
Ao retornar
do exílio, sua obra ganhou novo vigor, sobretudo pela atualização das idéias que defendia frente aos desafios decorrentes
da nova ordem internacional. Freire manteve o viço das suas convicções democráticas como resposta aos desafios postos pelos
tempos de neoliberalismo e globalização. Seu último livro, Pedagogia da Esperança, renova a convicção nos processos de educação
e de leitura capazes de entender e respeitar os universos culturais das populações menos favorecidos.
Cerimônia de
inauguração
Durante a cerimônia
de inauguração da obra, o ministro Cristovam Buarque ressaltou a importância de Paulo Freire para o Brasil e, em particular,
para o programa de combate ao analfabetismo. Elogiou o monumento, afirmando que, daqui para frente, qualquer turista que chegar
a Brasília terá, como alternativa, uma visita até o painel com a figura do educador, além das visitas aos pontos turísticos
conhecidos, como a Catedral, o Congresso e a Praça dos Três Poderes.
Presente à cerimônia,
a viúva de Paulo Freire, Dona Ana Maria Freire, trouxe a público vários fatos relevantes da vida e da personalidade do educador.
Disse que o monumento em sua homenagem teve a felicidade de transcrevê-lo numa figura serena e forte, como ele era.
A obra
O monumento
que homenageia Paulo Freire foi realizado pelo artista plástico Henrique Gougon, residente em Brasília desde os anos 60, ex-aluno
da Uninversidade de Brasília.Todo construído em mosaico de mármores e granitos, abriga quase mil assinaturas de adultos recém-alfabetizados,
enviadas de todas as partes do país. Foram reproduzidas com fidelidade através de brocas de dentista que rasgaram a superfície
das pedras, abrindo espaços de perfuração e cobertos com tinta automotiva, perenizando a presença das mesmas junto ao educador.
Gougon é autor
de outros painéis, retratando personalidades públicas na cidade, sempre com a linguagem das pedras. Na Universidade de Brasília,
realizou um memorial em homenagem ao líder estudantil Honestino Guimarães, vítima da ditadura militar. No ano de 2002, realizou
sete painéis com a figura do ex-presidente Juscelino Kubitschek, por ocasião do centenário de seu nascimento (para o Sesc-913
sul, para o Jardim Botânico, para o Clube de Imprensa, para o Bar Brasília, para a Biblioteca da 506 sul, para a praça JK
na W-3 sul e para o Ciac JK, no Núcleo Bandeirante), e também obras retratando Darcy Ribeiro, a poeta Cora Coralina e a ex-primeira
dama Sarah Kubitschek, todos estes para prédios residenciais de Brasília.
O monumento
a Paulo Freire tem a forma de um livro em pé. Na lateral que visualiza a lombada do livro, está gravada uma frase de Cristovam
Buarque, sintetizando a trajetória do educador: Um homem que viveu para que os outros escrevessem.
O trabalho decorreu
de patrocínio da Unesco, que tem amplificado a obra de Paulo Freire através da universalização de sua mensagem junto aos povos
de todos os continentes.