Roteiro turístico do mosaico em São Paulo
Em muitas cidades brasileiras, especialmente nas metrópoles, como Rio, São Paulo, Belo
Horizonte e até Brasília é possível estabelecer uma espécie de roteiro turístico do mosaico, que interessaria a guias turísticos,
aos artistas de maneira geral e historiadores em particular, além, é claro, de um enorme contingente de amadores, generalistas,
curiosos e “flâneurs”.
Afinal, o mosaico desperta nos dias de hoje muita emoção e interesse, mas poucos conhecem
ou se dão conta da proximidade de muitas obras em pastilhas espalhadas em logradouros públicos, que podem ser visitadas, apreciadas
e fotografadas sem qualquer incômodo e sem infringir qualquer artigo da lei de direitos autorais, que permite a reprodução
de todas as obras artísticas que se localizem em logradouros públicos em caráter permanente.
No caso de São Paulo, um roteiro desse tipo poderia ser integralmente percorrido a pé
pelo centro da cidade, começando pela Catedral da Sé, que abriga peças riquíssimas, vindas diretamente de Ravenna, na Itália,
a capital mundial do mosaico de características religiosas.
Em seguida, o percurso passaria à Galeria Califórnia, onde se encontra um painel de ninguém
menos que Portinari! Sim, dele mesmo, de Portinari, bem ali num espaço aberto, pronto para ser apreciado para quem quiser
conhecer uma faceta pouco conhecida do grande mestre das artes brasileiras.A Galeria Califórnia interliga as ruas Barão de Itapetininga e Dom
José de Barros, com áreas de ingresso pelas duas ruas.
O mosaico da Galeria Califórnia é um raro exemplar de Portinari pela simplicidade de seu
desenho. O prédio da Galeria é de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, que escolheu Portinari para decorar o enorme pé direito
da entrada do espaço. Depois de pronta, a obra mereceu considerações irônicas
do grande crítico de artes Mário Pedrosa, que estranhou a simplicidade das linhas e, em artigo assinado logo após a inauguração
do prédio, insinuou que o mestre de Brodósqui estaria querendo dar uma de Mondrian, o artista de origem holandesa que explorou
a simplificação da linguagem plástica em poucas linhas horizontais e verticais.
Depois da Galeria Califórnia, o roteiro pode ser estendido até a Secretaria de Turismo
de São Paulo, na rua 15 de Novembro, onde é possível apreciar os pisos muito bem conservados de mosaicos em estilo art déco.
O prédio é de 1938, e durante décadas abrigou o antigo Banespa. As obras do piso são de autoria do artista italiano Ferdinando
Gennari.
Um roteiro do mosaico na cidade de São Paulo não pode deixar de fora uma visita até a
Igreja de São Bento, construída em estilo eclético, que inclui no interior, bem próximo ao altar duas espécies de “tapete”
no piso, muito bem elaborado e preservado.
O percurso não se esgota aí. É preciso caminhar também em direção à rua Major Quedinho
para conhecer de perto a obra referencial de Di Cavalcanti na esquina com a praça Desembargador Mário Pires. O prédio abrigou
no passado a sede do jornal O Estado de S. Paulo, que contratou a obra ao artista, mostrando as etapas de produção do diário. Posteriormente, o jornal mudou sua sede e o prédio passou a abrigar o Diário Popular.
Mais recentemente, mudou de destinação e em seu lugar nasceu o Hotel Holliday Inn Jaraguá, mas o painel continua íntegro e
muito bem cuidado.
O roteiro pode ir mais longe, sempre ao alcance das pernas, bastando incluir uma nova
caminhada até o Centro Cultural do Banco do Brasil, que é um prédio construído em 1901, pelo engenheiro Hippolyto Gustavo
Pujol. Abrigou a primeira agência do Banco do Brasil em São Paulo e hoje é um espaço muito concorrido
de exposições, teatro, cinema e outras manifestações culturais. O piso de mosaico na entrada do prédio é de arrepiar por sua
beleza e conservação. Revela um pouco do luxo da belle époque paulista e mostra
a dimensão de bom gosto do prédio.
|
Interior da cripta no Obelisco do Ibirapuera |
Evidentemente, este roteiro do mosaico pelo centro de São Paulo não esgota o enorme potencial
que a cidade abriga de peças referenciais em pastilhas por toda a cidade. Ali próximo, no Ibirapuera, é possível visitar a
gigantesca obra em mosaico do fabuloso italiano Galileu Emendabili, que se situa na cripta sob o obelisco. É obra para ser
apreciada e reverenciada pela gigantesca competência do artista. Também mais ou menos perto do centro, num roteiro mais dilatado,
seria possível incluir um percurso até o Metrô Consolação, na Av. Paulista, para apreciar os painéis de Tomie Ohtake, conhecidos como “as quatro estações”. Ou percorrer Higienópolis para se emocionar
com o gigantesco painel de Cláudio Tozzi na empena de um prédio na Av. Angélica. Ou ainda procurar por ali o painel de Clóvis
Graciano. Enfim, a idéia de um roteiro turístico-cultural do mosaico poderia despertar muito interesse para guias e profissionais
do turismo. E sobretudo pessoas interessadas, de máquina fotográfica a tiracolo. Bom passeio.
HGougon, dez. 2009
Painel de Cláudio Tozzi na Av. Angélica |
|
Obra de Clóvis Graciano em Higienópolis |
|
|